sobre a complexidade de ser poeira estelar
Talvez não aconteça à toda gente. Me apoiando nas palavras dos velhos filósofos, talvez a maioria das pessoas fique pra sempre no mundo material, ou na visão material e superficial do mundo.
Costumava ver esses meus dias cinzas como algo negativo, já que não me parecia comum o meu desinteresse pelas coisas do cotidiano. Lá do lado de fora há uma multidão falando sem parar. Nos bares eles riem alto ao som da música sensação do verão. Não nego que vez ou outra me misturo em meio à eles. E quem do outro lado da rua observa a multidão quase não nos percebe destoar. São discretos nossos gestos, são singelos os nossos suspiros. É costume nos camuflar entre a névoa e a fumaça que os cinzeiros não apagam.
Hoje já não vejo mais como algo ruim. Sorte de quem se entedia com as banalidades da vida, quem não fica na inércia da superfície. Sorte dos loucos, que assim como eu, tem seus dias de querer gritar que tá tudo errado, que já não dá mais. Sorte de nós que temos nossos jeitos de fugir da rotina de dizer amém à todo dogma e teoria, mesmo que muitas vezes não o façamos do modo mais benéfico ou convencional. Sorte daqueles que mudam de opinião, que sofrem constantes mutações. Doentes estão aqueles que não estranham o absurdo do mundo. Pobres coitados! Também nunca conseguirão admirar-se perante ele.