12/10/2013 - Dia das Crianças
Tudo começou quando a metade de mim, estava sozinha ainda. Vivíamos separados, em casas diferentes. Mas houve um dia, de grande correria, que enfim iríamos nos encontrar. Havia muitos correndo. Muitos querendo meu lugar. Mas eu sabia que era minha oportunidade de me tornar completo. Corri muito, loucamente. Enfim, me encontrei. Minha outra metade e eu nos tornamos um só ser. Foi lindo esse momento, essa união. Me senti tão completo. Agora sim, eu ia crescer e enfim, conhecer o mundo lá fora. Alguns dias se passaram. A vontade de conhecer o mundo lá fora, as vezes de deixava com receio, afinal, eu estava na minha zona de conforto. Estava protegido. Comecei a ouvir as vozes do mundo lá fora. Duas eram perfeitamente reconhecíveis. Uma, doce como uma melodia, era da mamãe. Eu ficava encantado toda vez que a ouvia falar. Outra voz, firme, essa era do papai. Me trazia segurança. Era firme, iria me proteger de tudo. Depois disso, minha vontade de conhecer o mundo foi só aumentando. Certo dia, as vozes pareciam não estar em sintonia. Era um barulho. Me deixou confuso. Mamãe falava em "problema", "dinheiro","sonhos" e papai estava bravo. Ainda ouço a voz que dizia: "Eu não quero. Dê um jeito". Fiquei triste, mamãe chorava muito. Eu queria poder ajudar. Papai foi embora e a deixou ali, chorando. Eu nunca deixaria a mamãe chorando. Ela demorou a dormir. Eu ouvi até o ultimo suspiro quando enfim, ela adormeceu.
Não demorou muito e ela já estava de pé. Outras vozes, familiares, mas que eu não conseguia distinguir estavam eufóricas. Mamãe estava em silêncio. Ela saiu, era tão alegre a mamãe, sempre passeava depois de ir a escola, acho que esse era o lugar. Mas não ouvi o barulho e os sorrisos. Estava um silêncio e mamãe parecia chorar. Não conseguia entender nada... De repente... Algo estava me puxado com violência.. Muita dor.. Eu não quero.. Não estou preparado.. Mamãe...Me ajuda.... Papai... Socorro....
(Em algum lugar)
Bebê:Hoje é dia das crianças, vejam as crianças sorrindo, com seus presentes lindos. Mamãe observa um bebê, acho que eu estaria daquele tamanho. Aqui o tempo é diferente. Nunca cresço. Nada muda. Agora muitas coisas fazem sentido. Choro muito aqui, todos os dias. Cada dia chegam vários como eu. Estou mais conformado, mas essa dor não sai de mim. Papai dizia: Não quero. Ele estava falando de mim. Mas ele estava tão feliz no dia do meu encontro. Mamãe sorria. Eles estavam em festa. Achei que era por mim, mas não. Seria eu o problema que mamãe falava? Ainda estou confuso. Acho que jamais irei entender.
Essa é minha pequena homenagem aos dias das crianças. Ser pai/mãe além de responsabilidade enorme, é um dom, se não for capaz de se doar, de se entregar por esse novo ser que depende tanto de você, se cuide, evite, há várias maneiras de se proteger. Não interrompa a vida.
Késia Ruas 12/10/2013