A dor de existir
Não tem sido tempos fáceis. Há muito a vida foi motivo de orgulho. Só o que tenho em mãos hoje é a angustia de tê-la de suportar. Lembranças de outrora, em que eu brincava no jardim sob a luz calorosa que se levantava da aurora, hoje não passa de reflexos num espelho torto, disforme, como quando despertamos de um sonho e a mente não consegue formar as imagens com coerência, e a medida que os anos vão avançando menos nos lembramos de tais sonhos. Assim são as lembranças que possuo adormecidas dentro de mim. As únicas coisas que podia chamar de vida hoje já não passa de pesadelos em que, por mais que eu corra atrás delas, parecem se distanciarem cada vez mais...
Os dias passam como nuvens obscuras que me impedem de enxergar a maravilha do dia. Só o que vejo é trevas. O mundo parece ser um reflexo de mim mesmo, pois estou morto por dentro, e o mundo parece ter morrido junto comigo. Por mais vivacidade que a vida irradie, meus olhos converte em morte tudo aquilo que eles observam. Tudo está morto, assim como a chama da vida que carregava em meu âmago. O próprio ato de respirar me enche de repulsa. Aquilo que é o néctar de todos os seres é a cicuta que sou obrigado a tomar todos os meus dias. Já são tantos anos nesse mundo vazio que penso que a tristeza é minha única alegria e a felicidade é uma doença. Estou cansado, realmente cansado de tudo...