Um alguém clichê
Hoje farei tudo diferente
sentarei naquele Café dos Amantes
bem na janela que dá para a igreja colorida
ao som de um certo romance
As coisas do lado de fora
serão apenas barulho monótono
de uma cidade lacrada, abstrata
cheia de fótons
O capotraste ficará na quinta casa
e a agudez da sonoridade
soará por todo o estabelecimento
cheirando a café e saudade
A moça esperando cuidadosamente,
nem imagina como arde por dentro
por dentro de um corpo sentado
incendiado, sufocado e sedento
Ela traz um café, dois, três depois
descafeinado, sem açúcar ou expresso
O quente do café anula o ardor
daquele corpo tão complexo
Aquele corpo serei eu
inseguro dos porquês
querendo não mais ser fantoche
vivendo de clichês
Como explicar os clichês,
se todos são a mais pura das verdades?
e apenas um alguém clichê entende
como dói a sociedade