Sentei-me um pouco no chão...
Sentei-me a pouco no chão do pátio de minha casa, nem sei por que... Na verdade não me apego muito aos “por quês” da vida, não canso minha mente e nem perco tempo em entender certas coisas, procuro vivenciar cada nova situação que nasce a minha volta, às vezes como erva daninhas outras como flores e algumas como árvores, as mesmas árvores que uso a sobra para me proteger do calor exagerado dos Sois a minha volta.
O dia se fazia longo e dentro de meus pensamentos uma senhora roliça caminhava com um enorme saco nas costas, me via criança e como tal estufado de curiosidades, puxei na bainha de sua saia e perguntei:
___O que tem dentro do saco?
Ela olhou-me com um olhar de avó.
___No saco criança a “bocas”.
Olhei para ela e sorri aquele sorriso de surpresa e com ar de ser mentira dela.
___Quer ver?
Sem falar nada balancei a cabeça não sei quantas vezes para frente e ela sentou-se ao meu lado ficando da minha altura e abriu aquele imenso saco, eu com certo medo fui olhando devagar e com um sentimento que jamais havia sentido, sentimento esse que fazia com que meu coração bate-se acelerado, uma vontade de correr e de ficar ao mesmo tempo.
___Podes me ajudar?
E sem pensar disse rapidamente que podia.
Ela pediu que se sentasse e virou sobre minhas pernas bocas fechadas, bocas abertas, bocas novas e bocas velhas.
___O que faço?
A velha roliça sorriu e com aquele olhar ainda de avó.
___Todas as bocas que estão ai pertencerão às pessoas que iras conhecer no resto de tua infância, em tua adolescência e na tua maturidade, muitas falarão coisas boas e ruins, outras não falarão nada, e outras de nada valerá o silêncio, feche algumas que estão abertas, abras algumas que estão fechadas e cuide as que são velhas que nem sempre são velhas e novas que nem sempre são novas.
___Mas como?
___Vou ensinar-te a usar o silêncio e vou ensinar-te a usar os ouvidos.
Levantou-se ela em um único movimento com uma rapidez de adolescente e sem dizer nada ia indo embora.
___Espera como vou ajudá-la?
___Já ajudou o saco agora é teu.
(continua em outra hora)