Palavras Presas

Há algum tempo preciso dizer a ele umas coisas, mas não sei qual é a melhor forma, sinto que se eu não expor o que estou sentindo irei enlouquecer, eu não preciso de uma resposta com palavras, só que me libertar deste sentimento. Sei que está na hora de encarar a face firme e misteriosa dele e os olhos claros, para dizer logo o que está aprisionado há tanto tempo.

Preciso respirar fundo para aliviar o a falta de ar que sinto advinda da minha ansiedade, nem sei como ele reagirá às minhas palavras, pra ser sincera tenho certo receio de que ele possa ver com maus olhos, entender algo de forma equivocada, acho que tenho mesmo é medo de perdê-lo de vez.

Minhas mãos tremem levemente e enquanto eu expiro o ar devagar, penso em como começar. As primeiras palavras trêmulas saem de minha boca em um tom baixo, ainda sinto muito medo de falar a verdade, começo da maneira mais cautelosa o possível, dizendo-o o quanto ele é importante pra mim, que meus olhos o procuram a todo o momento e que eu sinto vontade de estar com ele o tempo todo, esse magnetismo parece me manter próxima mesmo quando não é possível fisicamente; sim eu preciso falar com ele de alguma forma, saber que ele está ali, que ele ainda sente algo por mim.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, ao me desculpar por toda a insegurança que sinto. Preciso que ele entenda que eu não tenho uma autoestima boa, que por mais que eu gostaria de ser autossuficiente eu não sou, posso parecer fria, mas por dentro eu sou um peso leve, que quebra com qualquer coisa, que precisa de atenção, não fale nada, me abrace, mostre que se importa. Preciso que ele saiba o quão importante é pra eu saber que depois de qualquer desentendimento, nada mudou e que ele ainda vai me envolver nos braços quentes e tudo estará bem, mesmo que não faça sentido, mesmo que eu ainda esteja perdida, tudo ficará bem.

Preciso dizer a ele que eu sei que é difícil ser paciente, que eu também acho que é exigir demais de alguém aguentar os meus altos e baixos, eu não quero mais viver neste vale, mas é trabalhoso sair dele. Sei que ninguém é feliz plenamente e nem triste plenamente também, são momentos que vivemos que podem ter certa frequência, uma tendência a se repetir, sei que isso ocorre com todos, mas eu não estou na pele deles para sentir, estou?

Esbocei um sorriso fraco, torcendo para que ele entendesse tudo o que eu dizia, a vontade que eu tinha era de abraça-lo, sentir seu corpo contra o meu, queria ouvir algo doce, queria sentir que ele gostava de mim, que eu estava sendo boa para ele, como ele era para mim.

Enquanto eu pensava se havia falado tudo o que precisava, o sentimento de alívio me invadiu por completo, mesmo que ainda houvesse algo a ser dito, não importava mais tanto já que todo o peso que estava em mim dissipou-se. Fechei os olhos enquanto inspirava profundamente o ar, que parecia bem doce e leve, expirei e abre os olhos devagar, encarando o que estava à minha frente. Senti minhas lágrimas voltarem aos olhos e o aperto retornar em meu peito, fitei a face vermelha à minha frente e os olhos castanhos cheios de água. Sabia que eu deveria mesmo falar com ele e sabia que seria difícil. Meu medo me acorrenta, não importa quantas vezes eu ensaiasse, aquelas palavras pareciam presas, talvez não fosse o momento certo. Fitei meus próprios olhos no espelho, sentindo o peso das palavras não ditas e a insegurança, enquanto eu me perguntava se haveria um momento certo para dizer o que eu nunca conseguia.