DO PROGRESSO HUMANO

As perguntas são mais importantes que as respostas. As respostas têm a finalidade de satisfazer as mentes, dando calma e uma sensação de compreensão das coisas. Ora, para quem não possui um certo conhecimento da mecânica dos fatos, ou pelo menos, uma consciência crítica, qualquer resposta, articulada de maneira compreensível, irá satisfazer. Então, com o passar dos tempos, armou-se todo um sistema que, quando não possui respostas, arranja logo uma, pois tem uma quantidade imensa de portas de saída. No começo, essas respostas são engulidas forçadamente, com a sensação de que não era bem aquilo que esperávamos. Como são as únicas que encontramos, dia a dia engulimos mais e mais respostas falsas, porque precisamos saber das coisas de qualquer jeito, mas estudar e analisar são atividades trabalhosas, é bem mais prático aceitar e digerir sem muita discussão. Caímos então num estado de aceitação total, e nem olhamos mais para o fundo de nós mesmos. Já nos confundimos com o resto. Fomos apenas uma gota a mais.

Então, é de suma importância que nos mantenhamos lúcidos, para conservar acesa a chama de nossa individualidade, e colocar grilos na cabeça de quem está satisfeito com o sistema, embora muitas vezes não se consiga atingi-los, pois já estão encouraçados, protegidos pelo Pai Grande que é o sistema. O maior perigo para a estrutura é a curiosidade natural do ser humano. É preciso fazer com que ele se sinta satisfeito, assim achará que tudo está certo, pois ao invés das pessoas refletirem o mundo (Bertrand Russel) em que vivem, apenas julgam este conforme seu estado interior. Todos agem como se o seu bem estar interno pudesse ser generalizado, a sua felicidade faz com que a infelicidade alheia seja amenizada. E é desse modo que agem os donos da bola. Satisfeitos os egoísmos, as pessoas se deixam explorara mais e mais, não se importando em serem ferramentas. Pouco diferem de parafusos. A única diferença é que, em vez de óleo, são lubrificadas mensalmente a dinheiro. Mas cada vez são mais apertadas. Talvez um dia se rompam.

É preciso indagar cada vez mais. E não aceitar qualquer resposta. E cada pergunta deve se basear na resposta dada. Talvez, dando bastante corda, o sistema se enforque.