Desde o até então agora
Nem tudo na vida dá certo, ela disse. Não acalmou meu espírito, tampouco apagou de mim a sensação de expectativas não correspondidas, mas aquilo me rendeu pensamentos.
O seu dizer inicial explica o porquê de ser eu mal interpretado, mas não me isenta da culpa de ser ambíguo e vago propositalmente.
Parei para me atentar ao espaço vazio que há tempos me incomoda, mas que terá de assim ficar por mais um punhado de dias. O tiro no escuro de que tanto tenho dito foi disparado, me acertou em cheio, perpassou minha alma e findou por deixar vago o espaço do que ali havia antes. Entrou pequeno como uma semana e saiu grande como um mês, para deixar em mim a dor de ver a solidão sentar à cadeira que indica teu nome.
E cá estou eu: tão vazio de pensamentos, e amores, e pessoas e pessoa quanto um estômago com fome. Uma vida parada e outra sem rendimento algum é p que conta a história de alguns dias. Dias em que a minha cabeça só há de andar cheia de cabelos. A boca seca me atordoa os pensamentos, tenho sede de teus beijos, e a falta que sinto de seus olhos a ocupar-me o juízo se mostra tão grande, que confundo minhas lembranças com a realidade que desejo ter para mim, agora.
Preenchi o vazio de minha mente com seu corpo, vivi em dias que podem ser contados na palma de uma mão tão pequena como a sua, histórias que preencheriam todo um mês de nossas vidas. As lembranças do início desta fábula vêm à tona, o peito se enche de um saudosismo recente, e a mente invejosa é tentada ao plágio. Revivo então todo o tempo de que precisou essa história, querendo voltar ao momento em que tudo começou, com vontade de mais uma vez beijar-lhe pela primeira vez. Não direi, mas escutarás. Se sabes que quero sempre mais, sua presença nunca será passado.