Colegas de Trabalho Folgados Com Filhos

Quem é "childfree" e trabalha normalmente possui um ou mais colegas folgados com filhos, esses querem trabalhar menos, chegam mais tarde e querem chegar mais cedo e justificam toda a sua preguiça e descaso com o trabalho alegando estar cansados ou ocupados com filhos. É bem comum que essas pessoas com filhos ignorem as necessidades e problemas de quem não tem filhos, como se todas as pessoas sem filhos estivessem a disposição para realizar as tarefas que os com filhos não querem, ou não conseguem fazer.

Eis alguns relatos de mulheres "childfrees" incomodadas com colegas folgados com filhos:

"Quando eu trabalhava no escritório eu tinha um colega que tinha acabado de se tornar pai. A mulher, uma bicha mole pra cacete de tão preguiçosa e vagabunda de primeira linha, pediu demissão pra cuidar do filho. E toda vez que filho tinha uma dor de barriga a mulher ligava pro marido. Às vezes meu colega chegava dez e meia da manhã reclamando que não dormiu à noite porque o filho tinha dormido e logo depois do almoço a mulher dele ligava falando que tinha que levar o filho no médico porque o menino não parava de chorar.

Quero dizer, a mulher pede demissão pra ficar com o filho e não dá conta? E ele empurrava o trabalho pra mim porque eu nunca deixei atrasar serviço e toda vez que eu falava para ele que eu estava sobrecarregada ele falava que o filho dele estava doente e precisava ir embora. Mas o dia do troco veio a galope.

Ele não estava dando conta do trabalho e precisou ficar até mais tarde uns dias e ele veio com uma conversa mole, tipo "você pode ficar até mais tarde hoje?". Foi a minha deixa, virei pra ele com a maior cara de despreocupação com a zona que era a vida dele e disse: "não posso, tenho que ir embora, pois meu filho está doente."

- L.T., 38 anos, designer gráfico, casada, São Paulo - SP.

"Trabalhei em uma empresa, em que a maioria das colegas de trabalho tinham filhos, e por vezes eu ficava um tanto entediada com as conversas, pois tudo gerava em torno de seus respectivos filhos, e não parava por aí. Eu como não tenho filhos, por vezes acabava me prejudicando pois as colegas “mães”, sempre tinham vantagens.

Tinha uma por exemplo, que só queria tirar suas férias na época de férias escolares por causa dos filhos, se julgando sempre melhor. Eu além de trabalhar nessa empresa lecionava e minhas férias nunca coincidiam. Passado um tempo saí dessa empresa, pois já não estava mais satisfeita lá e fui em busca de novas oportunidades."

E.C.F. P., 33 anos, professora e gestora de eventos, solteira, Presidente Prudente - SP.

"Sou 'childfree' convicta desde sempre, comecei a sentir o impacto da irresponsabilidade materna alheia quando a maioria das minhas colegas de trabalho já tinham se tornado mães. Trabalho numa repartição pública, e como é notório, existe um "afrouxamento" de controle de condutas. A coisa não é tão rígida como ocorre na iniciativa privada. Ali, presenciei desde mães literalmente trazendo a creche para o trabalho (o kit continha: tatame, brinquedos, cercadinho, cobertor e um aparelho de DVD portátil para a cria assistir aos desenhos), pré-adolescentes que se apoderavam dos computadores da repartição, e bebês lactentes chorando pelos corredores.

Outro fator desagradável é o quesito férias: quem não tem filho nunca tem direito aos meses de janeiro e julho. É praticamente uma sentença: não procriou? Vai passar a vida sem ter direito à estes sagrados meses. Em quê eu sempre fui prejudicada especialmente: por ser a única 'childfree' do local, já fui escalada para cobrir férias, licenças prêmio e licença maternidade de quase toda a repartição. Quer mais ainda? Mesmo no meu horário de folga, já fui requisitada pra cobrir períodos onde as mamães tiveram que se ausentar por motivos de: meu filho passou mal.

Os motivos de isso ter acontecido sem uma supervisão superior não vem ao caso, mas posso adiantar que até os chefes tem uma ponta de preconceito com quem não tem filho, e protegem quem os tem. Chefes tem filhos, né? (no caso) Como eu sempre digo: nunca pari, mas já ajudei a criar muito filho por aí."

M.L.F., 35 anos, funcionária pública, solteira, São Paulo, SP.

"A colega de trabalho levou o filho com conjuntivite uma semana para o trabalho, porque a escola não queria que ele transmitisse a doença para outras crianças. Ela não tinha com quem deixar e levava ele pra transmitir a conjuntivite para todo o escritório."

M.H., 28 anos, casada, funcionária publica, São Paulo - SP.

"Uma vez fui almoçar com uma gangue de gurias e todas juntaram as mesas próximas e começaram a falar da casa, do marido e dos filhos. Eu não tinha assunto porque não vivi e nem pretendia viver aquilo. Ao meu lado estava uma outra amiga que também não sabia o que falar. Fomos pra perto dos caras que estavam falando de futebol. Não entendo nada de futebol, mas é mais interessante que falar de filho/casa/marido."

T.A., 32 anos, analista de sistema e estatística, solteira, São Paulo - SP.

"Tinham vários estagiários no setor de neurologia infantil e nós trabalhávamos aos pares para atender os pacientes fixos. A minha "colega" era mamãe de uma criança de 2 anos e cursava faculdade, mas nunca chegava no horário, era abusada, largava trabalho pela metade, nunca preenchia corretamente os formulários de atendimento e vivia 80% do tempo no celular com a mãe dela falando sobre a "bença".

Eu fazia o meu trabalho, mas pra que os pacientes dela não ficassem sem atendimento (a culpa não ela deles), eu os atendia também, o trabalho pra mim era dobrado.

As supervisoras sabiam da situação, deram várias chamadas nela no decorrer do estágio, mas ela não se tocava, no final não atingiu nota mínima e levou um pé. Eu continuei no estágio e mudei pro setor que eu queria, que era o de correção postural. Saí de lá com médias excelentes, já dela, eu não sei..."

T.A.C., 34 anos, fisioterapeuta e professora universitária, casada, Jundiaí - SP.

"No meu primeiro emprego na Irlanda, um lugar cheio de parideiras onde empurrar o trabalho para cima das sem filhos, ou seja, eu, era de se esperar. Uma vez uma colega saiu espavorida do escritório porque o filho dela tinha apanhado varicela e como tal não podia ficar na escola. A solução dela foi trazer o filho para o trabalho, notem que eu nunca apanhei varicela e a varicela em adultos é perigosíssima. Então eu fui expor a minha situação ao chefe e ele disse que não ia ser tão mau assim, bastava só eu não chegar perto do filho dela, detalhe que eu e essa tal trabalhávamos no mesmo escritório. Então eu fui embora, levei o meu trabalho comigo e fiz em casa.

No dia seguinte voltei e descobri que a parideira tinha feito queixa de mim por ter deixado o meu local de trabalho sem justificação e tê-la sobrecarregado, notem que ali era tradição quem tinha filhos sair tipo 5 horas mais cedo porque a cria "ficou indisposta" e isto quando sequer iam trabalhar! Então fui despedida num dia, readmitida no dia seguinte e transferida de posto."

S.M., 23 anos, assistente docente universitária, união estável, província de Leinster em Dublin - Irlanda.

Nota do autor: traduzi algumas expressões idiomáticas do português de Portugal para o português brasileiro.

Esses relatos acima foram exemplos de situações incômodas, injustas, desfavoráveis, desiguais e preconceituosas contra pessoas que escolheram não ter filhos, tais pessoas não recebem o devido valor no ambiente de trabalho. Os "childfree" acabam por ser expostas a situações onde a exploração e outros fatores negativos são reforçados para que esses profissionais sirvam de meros substitutos de pessoas com filhos que acabam ganhando mais benefícios no exercício de trabalho que seus colegas sem filhos.

Muitas pessoas que não querem ter filhos desejam um mundo mais compreensivo e justo que respeite e entenda tal decisão, pois estilo de vida é algo pessoal e viver pressionado para se adequar a moldes que influem na vida de outras pessoas é uma situação péssima.

- Hector Hertz.

Setembro/2013.

Hector Hertz
Enviado por Hector Hertz em 28/09/2013
Reeditado em 03/10/2013
Código do texto: T4502360
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