A dor em essência

Sinto a angustia intermitente abrasar-me a consciência perturbada. Saraivadas de agonia me diluem em dores latentes. O incisivo desejo de sumir mergulha-me na solidão mordaz, vozes crípticas, sardônicas, caem das estalactites obscuras dos infinitos da mente, sussurrando o augúrio em tons ludibriosos e irônicos e guiando-me ao vale absconso das ideias suicidas. Como um cancro na consciência o silêncio abre as portas que trancafiavam minhas mais profundas dores vividas, libertando as quimeras que custei para trancafiá-las. Sinto percorrer pelo corpo a sensação de ser outro, um ser desesperado, angustiado pelo sentimento de se perder em si mesmo em domínios que são seu. Hirto, vejo-me impossibilitado de lutar contra este pandemônio que me possui, e apenas assisto a efeméride da tristeza que, como vermes comem minhas partes carcomidas, sobrando apenas o chocalho dos ossos numa casca biológica vazia. Meu corpo tornou-se a morada da morte, transubstanciando meus pensamentos na essência profunda do pessimismo; estes que, como pústulas na consciência, devoram a carne imaterial de minha alma; Destruindo a si mesmo, eu vivo uma batalha constante...

A súmula de minha vida resume-se na dor, e as poucas coisas que um dia existiram de bom parecem não passar de ilusões, e o passado em que abriga estas lembranças é somente um sonho lívido dos desejos de ser feliz. De minha boca palavras saem como pústulas de asas que voam até os ouvidos alheios, contaminando o terreno fértil da felicidade que é cultivado no mundo interior dos outros seres. Já não sinto, nem mesmo sou, nem mesmo sei quem fui, a única coisa real é o sentimento de morte que carrego dentro de mim, como se estivesse eternamente de luto, lamuriando no funeral mais triste que há de existir, aquele do qual você assiste a si mesmo, ainda em vida, sendo enterrado pelos coveiros lúgubres da morte. Percorrendo pelas minhas veias sinto sangue transmutando as moléculas em zumbis famulentos, simbolizando-os em servos da podridão que hão de comer meu corpo malsão na profunda sepultura que cavei em meu ser interior. Não tenho mais medo da morte, pois carrego a morte em mim.

Acorrentado em dores melancólicas grito dos portões de meus infernos o prenuncio da desgraça que a de me devorar depois da morte, pois tamanha é a dor que não cabe neste corpo material que carregarei comigo como um irmão siamês, acompanhado pela infinita dor existencial.

Quem sou eu neste ergástulo universal - pergunto-me. Sou a própria dor, desde a epigênese da vida.

Nishi Joichiro
Enviado por Nishi Joichiro em 27/09/2013
Reeditado em 30/01/2014
Código do texto: T4500474
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