Louis.
Eu ainda lembro do primeiro dia em que nos vimos. Bem, não faz tanto tempo, mas eu não costumo lembrar de coisas que aconteceram há mais de um ano. No entanto, ainda lembro deste dia. Como poderia esquecer, não é mesmo? Eu estava nervosa, afinal, o ônibus havia atrasado e eu não estudava naquele colégio há nem um mês. Imagine meu constrangimento se o professor já estivesse dando aula na hora que eu entrasse na sala!
Foi por causa do meu nervosismo excessivo que eu notei você. Óculos grandes, uniforme do colégio que fica próximo ao meu, ombros bonitos, olhar sério, livro na mão... era muita perfeição para meus olhos que estavam acostumados a encarar sempre as mesmas pessoas sem sal e sem açúcar. Porém, eu não queria parecer uma daquelas garotas atiradas dos filmes americanos, e também não estava a fim de demonstrar que era uma idiota. Desviei o olhar, mas senti o calor dos teus olhos sobre mim. Oras, eu só podia estar imaginando! Por que um cara como você olharia para uma garota como eu? Bom, você só podia estar me olhando com desprezo, provavelmente pensando: "por que esta esquisita me encara tanto?".
De minuto em minuto, eu olhava de soslaio para você. Fiquei tão absorta em meus devaneios que até esqueci do fato de estar atrasada. Isto não importava mais. Eu só queria saber seu nome, idade, cor favorita, signo, matéria que gosta... será que você era da mesma série que eu? Ah, quantas perguntas se formavam em minha mente! Eu passaria o resto da vida te encarando disfarçadamente e tentando achar respostas para as minhas dúvidas, mas tive que descer do ônibus na parada que ficava perto do colégio.
O mesmo aconteceu no dia seguinte. E no outro, e no que veio depois, e, creio eu, nos trezentos e sessenta e cinco dias seguintes. Após um tempo, comecei a achar respostas para algumas das minhas perguntas. Descobri que teu signo é Escorpião, um dos favoritos de Peixes. E você gosta da mesma matéria que eu, está sempre com um livro novo, não consegue viver sem música e fica estranho sem óculos. É tímido ao extremo, mas fala pelos cotovelos quando se identifica com a pessoa. Você é, psicologicamente, meu irmão gêmeo. É uma pena que jamais poderemos ser mais que isto.