Pág.10 a 13 do livro "Nas profundezas do eu "
___Corram! Corram!
___O que está acontecendo?
___Levante soldado, quer morrer feito um porco?
___Soldado. Há meu Deus, a onde estou?
___ Liom! Liom! A tua esquerda, a tua esquerda.
___Quem é Liom?
Alguém pula sobre mim me derrubando enchendo a minha boca de areia.
___ Seu idiota, precisamos de todos vivos incluindo você, portando soldado rasteje para tua esquerda e tente acertar aquele “cara” da trincheira.
Os projeteis passam zunindo pelo meu capacete e vejo corpos mutilados atirados no chão, pessoas sendo jogadas para o ar devido as fortes explosões, os gritos de desespero confundem-se com as ordens de avançar e a sinfonia bem orquestrada da violência das granadas e fuzis, rastejo sobre o sangue, pedaços de carne humana, sou seguro pelo braço, não me assusto e aquele homem só com o braço direito me pedindo desesperadamente:
___Me leve com você, eu ainda estou vivo, me leve com você.
Eu fico olhando para aquele homem sem saber o que dizer, enquanto o sangue espirrava do braço dele, os olhos de terror dele aos poucos foi mudando e as lágrimas começaram a dar lugar a um sorriso mórbido ele me pega pela gola da camisa e exaurido cochicha ao meu ouvido:
___Já que não queres me levar Liom, bote o meu braço no lugar, esconda dela, esconda dela.
Dela quem ? Olho para os lados e as pessoas continuam sendo abatidas e os gritos aumentam cada vez mais, estou no meio de uma guerra, estou no meio de uma guerra, isso é impossível, há meu Deus tenho que sair daqui .
___Cuidado ! Cuidado !
Fico olhando para aquele homem voando em minha direção e também sou jogado para cima caindo não sei que distância do corpo daquele homem faz-se o silêncio e vejo muitos soldados verdes espetando o peito dos mortos e feridos atirados na terra e entre eles uma velha gorda trazia em sua mão esquerda um cesto de palha na mão direita sete dedos, podia se ver uma tatuagem, ou uma cicatriz ou até mesmo um sinal de nascença em seu enorme seio esquerdo que parecia que ia cair do avantajado decote daquele vestido preto que de tão longo arrastava-se no chão rasgado em baixo deixando claro imaginar que os rasgos seriam dos puxões que aquela velha gorda dava nele quando ele ficava preso nos corpos dos mortos ou até mesmo poderia pensar eu que os moribundos as portas da morte em seus últimos lamentos tentassem recuperar alguma coisa segurando-se no vestido ela se aproxima ai consigo mesmo sentindo uma dor excruciante ver o que a velha tinha no cesto, corações, rins, pulmões, línguas e ela tira dos mortos antes que os soldados verdes os espetassem, ela chega até eu me olha e antes de olhá-la nos olhos vejo um colar em seu peito com glóbulos oculares, limpos e ao olhar em seus olhos vejo que ela não tem olhos, tento correr ai que eu me dou conta que estou sem uma perna, desesperadamente tento esconder dela, não tenho nada para cobrir, pego rapidamente outra perna que está ao meu lado e simplesmente encosto na que está faltando, ela me sorri, eu olho para as minhas pernas, era à esquerda, droga estou com duas pernas esquerdas, vejo o soldado vindo em minha direção ele firma a baioneta no meu coração e ouso a velha falar:
____Não, espere, eu quero um pedaço dele vivo ainda.
O soldado não espera e começo a sentir a baioneta rasgar a minha carne.