Papel, caneta, bolinhas de gude e a música perfeita.
Quando você tem um papel e uma caneta não mão, não espera mais nada além de passar tudo que sente, transmitir ou arrancar do peito algo que possa se desfazer e desaparecer caso amasse ou rasgue aquele papel.
Eu tentei imaginar como seria se isso fosse real, se eu experimentasse acreditar.
Como um saquinho com dezenas ou centenas de bolinhas de gude, que em um dia qualquer se rasgou e espalhou cada uma delas por muitos, inúmeros cantos do mundo, eu me descrevi. Então escolhi a música perfeita, peguei o papel e caneta e fui desenhando cada bolinha de gude, cada uma delas, e tentei reuni-las novamente.
Não é uma tarefa muito fácil, quando você passa muito tempo espalhada começa a confiar que nunca foi completa de verdade.
E quer saber? Não é como um conto de fadas, novelas, ou até como as histórias das minhas amigas. É sempre diferente, é sempre uma exceção. E me custou muito entender isso. Procurei por tantas experiências que não eram minhas, alguém que dissesse algo, qualquer coisa que me confortasse, mas não encontrei. É uma verdade visível apenas aqueles que já se levantaram, aqueles que já superaram.
Sabe, eu não sou fraca, sei que sou especial, e que de alguma forma eu fiz alguma diferença, mas ainda sim, tudo que tem no meu peito eu desejo desesperadamente passar para essa droga de papel, esse papel estúpido que deveria ter alguma utilidade além de simplesmente me dizer que não importa quantas bolinhas de gude eu desenhe nele, eu nunca mais irei uni-las novamente.