A BELA E O PÁSSARO ABISSAL
Diz a lenda que um pássaro abissal ousou descansar-se imerso nas rútilas sensualidades de uma nuvem.
Embebido do néctar do encantamento, provou da carne e do pecado, sem conhecer da alma que lhe perjurava amor sempiterno ao leito.
Nos solstícios dos gozos, ele tentava versificar sílabas que não eram da carne; e ela sussurrava melodias de chamas que o mantinham aprisionado ao ubíquo desejo e à frágil quimera.
Na complexidade do desalinho, chuvas começaram a cair entre os tecidos das falas, das carnes e das almas dos amantes dissimétricos.
Entre sismos e abismos, o sábio pedia paz na carpintaria dos sonhos, sob a cegueira da nuvem que lhe vociferava, a andar como formiga, cada vez mais reticências ébrias.
No galgar de verborragias de uma noite febril, pediu-lhe ela, enfim, um ensinamento que lhes pudessem acalmar os espíritos amantes, entre as penumbras que se lhes impunham vigorosamente.
- Como deixar de ver suas quedas e voar além do sumo amargo de suas seivas, meu amado?
E, pela primeira vez, o pássaro imaginou que a bela pudesse entender o singular mistério que os unia, além das coisas em que estavam jogados no mundo.
- Desnuda-te a ti mesma de teus aforismos severos e liberta teu espírito para me amares além de minhas abnormidades. Distancia teu coração de tua mente inflamada para poderes sentir além de nossos inerentes torpores aos chãos, que tu também te refletes em ofuscamentos dos quais me faço cegar para te amar. E, então, voa comigo um voo único.
- Não sou como você. Não preciso me desnudar. Sempre fui pura e só sua. Queria apenas aprender a voar.
- Então, enfim, viu o pássaro que a amada estava aprisionada em si mesma.
E na inalcansável calmaria da nuvem, imerso em devaneios e com as asas flageladas, retornou o pássaro, angustiado, para horizontes desérticos a vagar vazios sem rastros.
Enquanto esvoaçantes girassóis aguardavam a nudez da pura rosa embalsamada.
Péricles Alves de Oliveira
Embebido do néctar do encantamento, provou da carne e do pecado, sem conhecer da alma que lhe perjurava amor sempiterno ao leito.
Nos solstícios dos gozos, ele tentava versificar sílabas que não eram da carne; e ela sussurrava melodias de chamas que o mantinham aprisionado ao ubíquo desejo e à frágil quimera.
Na complexidade do desalinho, chuvas começaram a cair entre os tecidos das falas, das carnes e das almas dos amantes dissimétricos.
Entre sismos e abismos, o sábio pedia paz na carpintaria dos sonhos, sob a cegueira da nuvem que lhe vociferava, a andar como formiga, cada vez mais reticências ébrias.
No galgar de verborragias de uma noite febril, pediu-lhe ela, enfim, um ensinamento que lhes pudessem acalmar os espíritos amantes, entre as penumbras que se lhes impunham vigorosamente.
- Como deixar de ver suas quedas e voar além do sumo amargo de suas seivas, meu amado?
E, pela primeira vez, o pássaro imaginou que a bela pudesse entender o singular mistério que os unia, além das coisas em que estavam jogados no mundo.
- Desnuda-te a ti mesma de teus aforismos severos e liberta teu espírito para me amares além de minhas abnormidades. Distancia teu coração de tua mente inflamada para poderes sentir além de nossos inerentes torpores aos chãos, que tu também te refletes em ofuscamentos dos quais me faço cegar para te amar. E, então, voa comigo um voo único.
- Não sou como você. Não preciso me desnudar. Sempre fui pura e só sua. Queria apenas aprender a voar.
- Então, enfim, viu o pássaro que a amada estava aprisionada em si mesma.
E na inalcansável calmaria da nuvem, imerso em devaneios e com as asas flageladas, retornou o pássaro, angustiado, para horizontes desérticos a vagar vazios sem rastros.
Enquanto esvoaçantes girassóis aguardavam a nudez da pura rosa embalsamada.
Péricles Alves de Oliveira