Quando é Faladeira
O carro estava cheio. O cobrador fedia a suor de horas. Estava voltando da consulta com o psiquiatra, que, aliás, uma consulta tremendamente chata, como todas as outras. Não vejo diferença entre um psiquiatra e um psicólogo. Enchem-te de um papo furado, testam sua cara com a deles, simpatia, antipatia, afins, querem se adaptar a você e te enchem de remédios. Enchem os bolsos. A mim, resta o dizer fazer o quê. Um senhor de certa idade me comparou com o escritor Aluísio Azevedo em rosto. Disse-lhe um obrigado com ternura e sentei-me. Já era tarde, acho que umas seis e meia da noite. Queria ler um livro de Bukowski que havia comprado, mas o mísero carro estava com as luzes queimadas. Então fiquei ouvindo a conversa de umas moças que sentaram ao lado do motorista. Se não estou fazendo nada, escuto. Falavam de política, discutiam com o motorista que a cidade estava indo muito bem, que um tumulto agora era por nada. O motorista ria-se, parecia uma risada de um velho sábio das redondezas. E elas continuavam com a mesma jogada, a mesma lábia, a mesma astúcia. O motorista parecia que ia caindo, caindo, até que foi de vez.
Abaixei minha cabeça, abri um sorriso e pensei: Mulher faladeira é que nem chiclete. A gente tem que mastigar mastigar e mastigar até sentir o gosto de alguma coisa.