Alguns comentários sobre uns comentários
Como qualquer pessoa normal (ou, até que me olho bem no espelho, pois já disse vacaprofanamente Caetano Veloso que 'de perto ninguém é normal') adoro elogios.
E, como qualquer ser humano inseguro - da capacidade de emocionar e/ou enviar a mensagem correta, da competência extra que é escrever de acordo com as normas no novo acordo ortográfico e, até, do mínimo talento - fico em cólicas quando exponho um novo texto: assim foi desde março de 2006, assim é agora (mais, ainda, neste momento!), pois que vou falar sobre uns comentários que seguem em minha e em outras escrivaninhas...
(Caro leitor, prometo três coisas: não ofender ninguém; clareza - pois aqui resta minha opinião, e, como tal, deve ser bem apresentada; e honestidade - esta última sempre presente em meus escritos.)
Eis que a afirmação de um excepcional escritor deste Recanto tão democrático sobre o 'ritual de elogios barganhados' por aqui (aquilo que a gente faz, sim: recebe um comentário de escritor(a) recantista, clica sobre o nomezinho dele(a), lê no mínimo um texto, comenta e agradece), me deixou mais 'encolicada' ainda.
Partindo do princípio racional que um comentário acontece após a leitura do texto, começo afirmando: creio que na maior parte dos casos a coisa tem a ver com cortesia. Afinal, quem de nós foi tão mal educado pelos pais para não se atentar em agradecer um benefício? (Além disso, recuso-me a crer que cortesia tenha como objetivo servir de lenha a uma fogueira denominada vaidade.)
Pois a leitura do seu texto é a mais importante benesse que um escritor - profissional ou amador - pode esperar. Se você escreve - e, como eu e tantos, se sente tão bem com a atividade que não cogita abandona-la, nunca! - imagine não ser lido.
Consegue imaginar, não, né?
Mas desviei-me do assunto, qual seja, uns comentários em escrivaninhas.
De volta ao anzol: passeio por 'lagos' de muitas pessoas, pesco muitos 'bons peixes', por aqui... Ora, 'iscas' são fundamentais! E (é impossível deixar de fazer isso) leio muitos comentários de outros 'pescadores'. Até já me utilizei da célebre 'faço minhas as palavras de ...', por concordar plenamente com a colocação do comentarista! (Sigo firme na opinião que coisa boa é para ser copiada, sim.)
E vejo colocações assertivas e generosas (nisso não há contradição, quando a doação é baseada na verdade do que se sente); há comentários curtos e simples, completamente profundos em sua essência; há interferências líricas bem feitas, que causam mais prazer ainda quando os autores comentados incorporam-nas ao texto original...
Também acontece a visita de apaixonados de tal forma pelo escritor que o comentário ao texto é de ínfima importância, já que se escuta seda sendo rasgada aos metros (e, dada a pretensa(?) subjetividade(?) da poesia(?), há casos em que se usa o tecido para vestir estátuas).
Há ainda, críticas contundentes, que deixam qualquer ser humano meio inseguro (feito euzinha, mesma!) mais inseguro ainda... Mas isso nunca matou ninguém... (E eu não fico nada bem, mas ainda não planejei suicídio.)
E, por fim, existem as 'nulidades' - 'qualidade do que não tem efeito ou valor'; 'falta de validade'; 'insignificância'; 'coisa vã' - os tais comentários até elogiosos, mas que percebo de longe que se dão através das combinações das teclas Ctrl+C e Ctrl+V; frases feitas e de efeito, que nada dizem sobre o texto lido, que não expõem a real sensação - certeza, dor, alegria, irrealidade, qualquer uma! - do leitor; comentários pasteurizados que parecem com certos livros de cabeceira de candidatas a (tão somente) rainhas da beleza.
Creio que, para qualquer escritor - ao menos aos que se pretendem além de massa de manobra - nada há de mais aviltante que isso. Seria até melhor nem ser lido a receber esse tipo de interferência! Elogio é para vir do âmago, e não da necessidade de coisa tão circunstancial como cortesia... ou vaidade.
Aliás, vale lembrar: no ambiente de interação abaixo do texto, o termo é 'Comentários', e não 'Elogios'.
Ciente disso, tem vez que me furto em 'elogiar', mas não em 'ler'. E, se nada há no texto que me atinja a alma, deixo-o em paz. Afinal, é o mesmo que peço para mim.
Desde já, grata.