Você prefere com dor ou sem dor?
Há, na vida da gente, dores evitáveis e dores inevitáveis.
Eu sofro hoje pelas duas. Sofro demasiadamente por pessoas que estão sofrendo, nestes países devastados por guerras imundas, e que poderiam ser protegidas por outros seres humanos que se omitem. Que exemplo melhor que este, de dor evitável, já que é causada por homens e não por alguma fúria da natureza? Completamente evitáveis, não fosse a conivência covarde de cada um de nós, que ainda preferimos ocupar o nosso tempo pensando em tantas inutilidades ao invés de concentrarmos esforços no sentido de coibir esse tipo de atrocidades.
Sofro a minha dor particular, esta inevitável, de ver um grande amigo na UTI, às portas do nunca mais, sem que eu possa fazer nada para impedir, a não ser esperar que o acaso lhe permita uma outra chance.
Eu poderia, sem que ninguém me culpasse, me ocupar do sofrimento pela iminência da perda de meu amigo, mas não consigo evitar que as duas dores se sobreponham. Quanto mais o meu lado egoísta me lembra que eu deva chorar por ele, mais o outro lado me lembra da dor de revolta por ainda estarmos, em pleno século XXI, a assistir pela tv as monstruosidades das quais meia dúzia de países se serve para consolidar o seu império do mal.
Eu poderia, e ninguém me recriminaria, me preocupar somente com as dores inevitáveis às quais estou exposta, mas me dói, sobremaneira, a inevitabilidade de saber que estas guerras, hoje distantes, logo mais estarão aqui dentro do meu país e ferirão ou matarão um dos meus, e nada poderei fazer porque não virá ajuda de outros países. De saber que eu poderei estar assistindo pela tv, se tiver sorte, à morte estúpida, não das minhas mas de outras crianças brasileiras, talvez os filhos de quem me lê neste momento, a pretexto de invadirem o meu país em busca de petróleo ou riqueza semelhante.
Não posso lutar, se nem ele pode, contra a doença do meu amigo querido, mas posso ainda tentar alertar aos meus conterrâneos que a melhor maneira de evitar uma guerra no nosso país é se posicionando contra a guerra em outros países, antes que ela chegue aqui. É alertando aos poucos que me leem, que não é rezando pela paz que ela descerá como pomba ungida sobre as cabeças de assassinos. É alertando que não adianta pedir a ajuda divina, visto que o divino parece gostar muito mais de sangue do que nós. É alertar que depende de nós lutarmos contra as dores humanas evitáveis.
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Algumas manchetes dos últimos dias:
- Inspetora da ONU responsabiliza os rebeldes (treinados por americanos e sauditas) e não Assad, pelo uso de armas químicas que estão matando crianças sírias.
- Otan (o ramo bélico dos países europeus) responsabiliza Assad e apóia intervenção americana na Síria.
- Assad nega ordem para uso de armas químicas, mas não muda decisão dos EUA de invadir seu país.
- Israel admite uso de armas químicas contra civis palestinos ( inclusive crianças), e os EUA (e o mundo) se calam.
- EUA pressionam Paraguai para que aceite a entrada de tropas americanas a este país, para o que chamam de Projeto Novos Horizontes do Pentágono, do qual já fazem parte Peru e Colômbia.
- (07/09/13) Marinha colombiana fará simulação de guerra no Caribe, sob o treinamento do Comando Sul dos EUA.
- Meu amigo sofreu infarto e está há uma semana na UTI, em estado considerado pelos médicos como gravíssimo.