É interessante pensar como, por vezes, preservamos sem ter consciência, sentimentos dos tempos de criança. Meus pais só faziam uma compra por vez no mercado; as outras necessidades, a horta na parte de trás de nossa casa, supria-as. Nessa ocasião festiva, a compra do mês, eu esperava ansiosa pelo item que me era oferecido somente nela; uma mensalidade, digamos, recebida por mim e paga a mim por meus pais: Um iogurte. Eu sou fruto desse contexto, contextualizada no ritual de apreciar durante um dia inteiro, em pequeníssimas porções, um copo de iogurte. Creio que já diz muito sobre minha infância. Hoje, outros tempos, a conquista de uma situação financeira confortável, não me dá o direito, assim sinto eu, de dela usufruir e satisfazer meu apetite por esse alimento delicioso. Eu ofereço-o todas as manhãs para meu filho, para que saia de casa bem alimentado. No entanto, eu me percebo esperando um determinado dia do mês para ir ao mercado, olhar os vários sabores disponibilizados, escolher um, somente um, voltar para casa e, quase com reverência, tomá-lo aos poucos. Não identifico meios de economizar, nada disso! O que do iogurte mensal eu percebo, é, talvez, resguardar um sabor. Se dele mesmo, ou da infância e suas pequenas riquezas, eu não tenho certeza.