CHOVE EM JERUSALÉM E EM TODA PARTE
Deuses se revelam em seus subservientes seguidores,
ou estes se reverberam a cozer escudos em seus mitos incautos?
Eu, que também desconheço qualquer verdade da exiguidade das coisas,
subo ao monte dos desvios e verbalizo meus desvarios absurdos.
Na bruma, há aspersões de luminescências abstratas,
e o fiel reflexo da verdade não pertence
aos que preenchem infinitos, movendo inércias
e vertiginando movimentos naturais.
Toda soberba e todo poder criatório,
mesmo que desfolheis multidões de deuses,
não podem pertencer a nenhum ente,
senão aos espúrios detentores de razões sencientes.
E toda crença em algum espectro onipotente qualquer
reflete não mais que uma vã tentativa
de vos desproverdes de ansiedades e de limitações intrínsecas.
A exteriorização do bem e do mal personificados,
como se possível fosse a cisão do ego,
demonstra cegas retinas a cobiçarem paraísos sempiternos;
ou a projetarem infernos menos entenebrecidos
que a seiva que corre em vossos rios íntimos.
Ouvi, entretanto, das alvoradas mortas e das que não nasceram:
Vossos deuses são apócrifos, embora lhes deis contornos flagelados
e vos imanem em pertinazes orações.
Saibais que sois vós nada mais que humanóides neandertais,
anomalias da evolução a acalentarem esperanças vãs
em progênies que batizais como sublimidades inconspurcas.
E que assim como vos vestis de homens quando vos quedais,
vesti-vos de ovelhas para rogarem salvações umbráticas;
enquanto cães ateus ladram solitários na pradaria,
alheios aos desalinhos de vossas gêneses alucinadas.
Péricles Alves de Oliveira