Crônica Doença do Sofrer
Desperto em sonhos as umbrais lembranças de outrora, que laçam arames farpados sobre minha pobre existência malograda, que lamuria a melancolia fúnebre no velório de minhas lembranças. Sob aurorais memórias vividas, fito o céu forrado de imagens lívidas de tempos que se perderam no passado, e hoje não passam de imagens turvas de quadros mal pintados... Infortúnio desgraçado que me consome dia após dia, deixando-me saudosa nostalgia, e como pústulas na consciência, os espólios da melancolia consomem a vontade de vida, restando apenas este vazio terrível.
Anátema funérea que se reflete nos sonhos, quero morrer para o passado, esquecer este pesadelo o qual se torna cada vez mais medonho. Tão terrível tristeza dilacerante, que perturba o ser pensante, como quem perde uma mãe querida, e chora em desalento desespero, vivendo até os dias finais da vida com a sensação de luto eterno. Pois assim são meus dias, sigo vivendo uma morte eterna, sufocado pela nostalgia que, como um demônio que tortura, arranca-me lágrimas puras da mais profunda das tristezas...
Sinto-me morto por dentro, vagando errante guiado pelos ventos que sussurram melancolicamente o cântico fúnebre de meu funeral, pois aqui não bate um coração vívido, e sim o desejo de descansar lívido, na paz que repousa os mortos...
Vazio profundo que dilui em ânsias a consciência, e afunda-me no pélago das pústulas que infectam a essência do que ainda resta para se olhar a vida com bons olhos. Triste caminho este pelo qual sigo, lamentando e revivendo como cheguei a tal estado, enquanto o presente passa despercebido, quero morrer no meu futuro, quero abraçar o meu passado...
Os anos se avançam e o sofrimento me consome como vermes que comem a carne putrefata, e quando olho para trás, cego pela escuridão vivaz, a crônica doença do sofrer sorri ludibriosamente, e sinto como se minha essência fosse a tristeza eterna, fadado a sofrer sem precedência e morto por dentro eternamente.
Já não sei mais quem sou, muito menos quem eu era, sinto apenas a vontade amarga como fel de deixar esta vida como quem deixa o tédio...