Sobre a desfacilidade do amor (ou Porque demoro a dizer "Eu te amo")
Considero-me pessoa feliz: desfruto de relativa boa saúde, tenho razoável inteligência para aprender (mas parece que vou morrer sem saber análise combinatória, assunto hermético que nem física quântica... e desonestidade), gosto de poesia - até já fiz algumas! - a aparência é agradável, principalmente aos olhos de quem me gosta; gosto de muitas gentes, gosto de bolo de macaxeira, de vinho branco seco e um pouco de mim...
E tenho Kiko, Vilma, Dália e Manuela (e ainda sinto uns pezinhos chutando internamente as costelas). Tenho Ênio, Gime, Gemille e Nora, esta, fraternidade nascida de outro útero. Tenho Sandra Mara e Luciano - e não importa quem é primo/a ou tio/a. E me tenho como nunca mais pensei que poderia, só porque uma vez me perdi de mim...
Lamento informar, mas pouco digo 'eu te amo'. Tal falta de generosidade, eu sei, não combina com uma pessoa feliz.
Eu poderia desfiar um rosário de histórias sobre as causas pelas quais desacostumei de falar coisa tão boa, mas me recuso a permitir que o comportamento desrespeitoso de outrens (e foram muitos, inclusive quem não deveria, nunca!) me torne menor aos olhos da minha própria responsabilidade.
Então, afirmo que não falo 'eu te amo' com a frequência que uns e outros e eu merecemos - ou precisamos - porque nunca penso que pessoas tão importantes me faltarão - e isso é presunção e egoísmo. Ou (pode ser) porque sou tão empesteada de preguiça emocional que (excetuando Nora: com ela, sei que posso!) até me recuso a brigar com quem quer que seja - e isso é pura covardia.
Aceito ser assim: são meus medos, defeitos, limitações... Meus, como os de ninguém mais! Eis meu espelho deformado, de cristal mal pintado em seu avesso, o nitrato de prata descascando, acumulando-se aos pés da penteadeira...
Mas não aceitaria me eximir de dizer 'eu te amo' por indiferença. Isso, não, porque indiferença (e não o ódio) é o contrário de amor. E eu sinto muito amor, só me é dificultoso por demais extravasá-lo...
Então, percebam: há em mim enorme e muito complicado e medroso querer bem, e que se reflete no elogio sincero, no apoio perene, na interferência bem intencionada (se bem que jamais alcançarei o 'jeito Eudênia de ser' - mas isso será outro texto) e na festa que faço quando quem aprecio está feliz.
Aliás, faço festa pela alegria de quem nem conheço, também, que o mundo precisa, com urgência, de gente alegre, que gente feliz tende a não mentir, matar, roubar, estuprar, adoecer, morrer, que felicidade assim é possível, sim, mas que tem gente infeliz que mente, e é a maioria, e diz que não, e forma opinião... que eu combato, porque qualquer indiferença me tornaria igual.
Para fazer comemoração eu sou fácil, fácil... Pessoas que eu tanto admiro, aceitem minha festa!
*Além dos citados: Tio Joãozinho (a segunda melhor pessoa do mundo, e que só ficou sem a primeira por que a vida, por vezes, é porcariamente injusta), Eny Girão, Tia Socorrinha (Pytuzinha do meu coração), Sandra Walêsk, Tia Mazé, Tia Helena, Tatá (o riso mais gratificante que alguém pode ouvir) , Chagas Sales Nogueira Lima, Janailton Lima, Albetiza Noronha, Elis Regina Coelho, Alice Gomes, Cecília Maria de Luca, Emerson Braga (Umberto Erê), Antonio Baltazar Gonçaves, Carlos Moraes (PoetaPleno), Marco Aurelio Vieira, Lazara Papandrea, Regina Romeiro, Sandra Mara Costa Barbosa e Tia Eudênia e Airton, in memoriam (porque o diabo dessa vida é um poço de injustiças, sim!).