É como ser a testemunha de um crime.
Depois de abrir os olhos para certas realidades, detalhes já não escapam. O sofrimento se apresenta ali na sua frente, preso ao chão, mas se contorcendo – como uma árvore horrenda. Na causa direta você não possui responsabilidade, mas, por algum motivo, a culpa te consome.
É a visão de uma criança radiante, rindo e brincando que – súbito – evapora. Ficam os olhos opacos e um corpo curvado, tremendo diante da complexidade adulta que a censura por ter brincado demais, por ter sido o que é.
Sua mão estende-se à criança, mas a realidade transforma os dedos numa leve brisa, num lençol fantasmagórico que freme. Logo a consciência também evapora. Fica seu corpo ali.
Carrega-se o fardo do mundo. Ao menos é o que parece, nossa “cruz”, na verdade, é leve. Só nossos pesares e abstrações incomodam, pois do essencial desfrutamos. Mas ainda sim nos apegamos ao leve desconforto, porque tememos.
Tememos a estagnação, que fiquemos para sempre ali, enraizados. Árvores horrendas que, por algum motivo, mentem – e hipocritamente geram flores belas que logo morrem.