As coisas que eu não fiz.

Não ganhei no Natal passado aquele celular que todo o mundo tem. E nem a camiseta de marca daquela banda famosa. E nem o CD daquela cantora americana que eu tenho como minha favorita. Ok, com toda a modernidade de agora eu já não sei mais qual a serventia de um CD, mas seria bom tê-lo. E não fui para Londres. Nem para a França. Nem para Nova York. E nem para a Disney. Ignore a parte que eu odeio parques, mas seria bacana ir para a Disney.

E, no meu aniversário, eu não tive uma super festa e não recebi parabéns de todas as pessoas da cidade. Não ganhei um vestido de grife e nem um buquê de tulipas vermelhas. Ganhei rosas, mas não gosto delas (e não precisa contar isto para a pessoa que me presenteou com elas). Ninguém me levou para conhecer uma fábrica de chocolates na Bélgica ou em qualquer outro lugar do mundo quando a Páscoa chegou.

Ah, eu não ganhei um abraço dele. É, ele, aquele garoto que eu gosto... ou penso que gosto. E não falei com ele por horas e horas. E não saí com a minha melhor amiga, nem vi minha maior inimiga... se é que tenho uma. Ninguém nunca me falou nada fofo ao ponto de me fazer chorar, e nem ruim na medida certa para me irritar. E nunca conseguiram fazer uma surpresa para mim (deixe em off a parte em que tentaram fazer e eu acabei descobrindo). E eu não sou a melhor aluna da escola. Posso ser uma das melhores, mas não a melhor.

Eu não fui ao velório de uma das pessoas que mais amava neste mundo. Não gosto de cemitérios. E não vi uma estrela cadente no momento em que todos viram, e nem fui para aquela excursão da escola que todos os meus amigos foram. E, acredite, nem foi por falta de dinheiro. Foi falta de vontade, mesmo. Porém, dinheiro sempre falta quando eu quero comprar livros novos. E sapatos. E revistas, e ingressos para o cinema, viagens para cidades bacanas, roupas, perfumes, presentes para pessoas bacanas.

E não fui ao show da minha cantora brasileira favorita. Foi hoje... ou ainda está sendo, I don't know. É a primeira vez que ela vem cantar numa cidade que fica perto de onde eu moro. É a primeira vez que eu tive a oportunidade de conhecer de perto (ou quase) uma pessoa que admiro desde a infância, e esta oportunidade foi pelo ralo. Por falta de programação. Falta de pessoas que pudessem me acompanhar. Falta de ânimo. Excesso de coisas para fazer e falta de tempo para cumpri-las. E não me aproximei daquela pessoa que eu queria me aproximar. Isto machuca, pois ela também não se aproxima de mim.

Tantas coisas que eu não fiz. E, agora, me pergunto: será que poderei fazê-las depois? Acredito que não. Então, para fugir dos "nãos" e tentar encontrar os "sins", eu desconto meu desconforto, minhas angústias, meus sonhos, meus medos, meus anseios, minhas fraquezas... enfim! Desconto tudo no brigadeiro que acabei de tirar da panela.

Lillian Cruz
Enviado por Lillian Cruz em 01/09/2013
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