OLHAR OBSCURO: ESPÍRITO ATORMENTADO
 
Devido ao fato de que todos os paradoxos postos à obra têm origem em nossas razões sencientes e fragmentadas, consagro a alquimia antecipada de quedas inevitáveis.

No cume do monte que não percebeis da planície ruminante onde habitais, toco o zênite cingido de nuvens escuras, sem uma chance última de me sonhar alguma redenção; e declamo, em devaneios distraídos, que onde habitais não há rostos por detrás de máscaras, nem sincronidades perfeitas nas atuações em meio às imensidades de imagens que fabricais a todo momento, feitas a espuriações de luzes inorgânicas.

E vos abjugo, em minhas dilacerantes dores, de minhas iniquidades ególatras, ao escrever no infinito, que não devíeis vos constranger, nem vos condenar por quedas que vos são cernientes, enquanto andais despercebidos de vossas próprias apocrifias pela nevoada ponte – temporária – da vida, alheios de que, assim como as flechas lançadas dos arcos explicam e expõem mais que superfícies incautas de seus lançadores, as autopurificações ressoadas em palavras cegas omitem cernes eivados, e as fés , em suas mais diversas crenças humanizadas, expõem fraquezas congênitas.

No rigor das alocuções, entre severos jugos, lancinantes açoites, faustosos elogios e célebres orações, evidenciam-se todos os componentes da abnormidade, mediante seus próprios expurgos.

Assim, andais letargiados em eixos fundamentais a julgarem ou a idolatrarem – mediante escolhas etéreas irrompidas de corações exangues ou de mentes contrafeitas, e conforme concupiscências inafiançáveis –, todas as adjacências exteriores, corrompidas com vossos cernes refusos.

Eu, um deus apócrifo, vejo-vos avastemas vangloriosos – entumescidos com razões sencientes e agrilhoados a crenças e esperanças em eviternos porvires castiços –, a caminharem como zumbis, acordados de uma sepultura que já não mais vos pertence, pelos dias frívolos de vossas procissões.

E vejo o que vos move a pintarem palidezes por toda parte , sem que vos percebais:

Os medos profundos que simbilam nos labirintos das mentes acabrunhadas vos fazem consumar isto.

As aflições pálidas advindas de palavras de dor lançadas aos ares; e as contrições instiladas em pensamentos vis trancafiados na consciência vos fazem consumar isto.

Os amores sempiternizados e esconjurados no momento seguinte vos fazem consumar isto.

As esperanças temporizadas em porvires que nunca chegam vos faz fazem consumar isto.

A covardia em buscar sacrários idealizados para amparo e alívio a sinais de lubricidades e a angústias incontritas vos fazem consumar isto.

A ilusão de que, cegos de vós cernes ursos, sois detentores-filhos de todo o resto da composição universal vos fazem consumar isto.

As inaugurações intelectivas que fazeis em toda orbe a vossos aprazeres ou ansiedades vos fazem consumar isto.

As autopreservações mediante a covardia de lasciar olhares e posturas alheias vos fazem consumar isto.

Sim.

Isto que, pregado na cruz ao cimo do grande monte, além do mar do esquecimento, ando cuspindo morbidamente por aí, enquanto, à espera do apagamento de minhas emissões espúrias, ouço vozes surdas eclodindo em desespero e suplicando misericórdias lenitivas, perpetualidades umbráticas, bem-quereres célebres, ardores concupiscentes e amores auspiciosos, com a visão tórpida de vossas próprias intrinsecalidades.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 27/08/2013
Reeditado em 28/08/2013
Código do texto: T4455005
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