Impossivel que ele nao notasse, impossivel que ninguem percebesse.

Impossível que ele não percebesse. Ela já não era mais a mesma, havia se tornado alguém que nunca quisera. O beijo ficou amargo e os encontros cada vez menos desejados.

Tão covarde aquela menina… Antes soubesse. Optaria pelo risco de ser quem quisesse, deixaria de andar sempre e sempre pelo mesmo caminho, deixando de lado a ingenuidade que a fazia acreditar em algo que, há muito tempo, não existia mais.

O ruído daqueles passos já não lhe causava euforia, apenas a leve preocupação em arrumar uma boa desculpa para fazê-lo esquecer os olhos vermelhos que ela teimava esconder.

Ele a amava tanto, tanto… Ela sentia-se culpada, mentirosa, indigna daquele amor. Ela já não o amava e não sabia como dizer isso. Usava almofada pra abafar o som desesperado da angustia e chorar. Funcionava, sempre funcionava. Ele, pelo menos, nunca notou.

Ela já não o amava mais e estava apaixonada por outro. Sentindo-se só ela sabe como, por um homem que jamais poderia ser inteiramente seu.

Os olhos dela continuavam vermelhos e ele, antes mesmo de perguntar lembrava-se “Ah! TPM! Quase me esqueço, amor! Vai passar!” Impossível que ele não enxergasse em seus olhos a verdade, possível que percebesse e não tivesse coragem pra fazer coisa alguma. Bem possível. Mas impossível que ele não percebesse nada.

“Simples, termine, oras.”, eu dizia. Mas não era tão simples assim. Não era mesmo, no fundo eu sempre soube que não seria fácil. Esse momento chegaria e ela não saberia como agir. Depois de tanto tempo juntos, o amor desgastou e virou costume. Mas não é simples, ela dizia. E mesmo sem amor, sentia-se grata ao vê-lo sorrir, em fazê-lo feliz. E até tinham seus momentos de felicidade de vez enquanto. Mas ela queria mesmo uma vida nova pra se acostumar, um novo amor pra enjoar. Queria estar ao lado daquele outro e com ele poder sorrir junto. Aquele que se tornou seu porto seguro e que ela carregava no coração, onde ninguém poderia tirá-lo. Onde a realidade não invadiria com todas tristes razões. Ela estava apaixonada e nada a fazia sentir-se mais viva naquele momento. Sabendo que antes de ser parte de um casal, era uma pessoa. Única. E por isso ela amava sem medo ou culpa. Ela estava feliz. Feliz, como havia esquecido que poderia ser. Impossível que ele não notasse. Impossível que ninguém percebesse.