A FRIVOLIDADE DOS NOSSOS ANSEIOS DE FELICIDADE

David Hume é um daqueles pensadores com o qual tenho imenso respeito e admiração. Talvez porque no seu pensamento encontro muito daquilo acredito, como por exemplo, ao não admitir que a moral possa fundar-se em bases eternas. E dentre seu vastíssimo pensamento, escolhi um trecho do ensaio intitulado “O Cético” que consta na pagina 167 do volume dedicado a Hume na coleção “Os Pensadores” da Editora Abril, edição de 1989.

"Quando refletimos sobre a brevidade e a incerteza da vida, quão desprezíveis parecem todas as nossas buscas por felicidade? E, mesmo que a nossa preocupação não se resuma a nossa própria vida, quão frívolos parecem os nossos projetos mais grandiosos e mais generosos, quando pensamos nas incessantes mudanças e revoluções das coisas humanas, por meio das quais as leis e a cultura, os livros e os governos são arrastados pelo tempo, como por uma violenta correnteza, e se perdem no imenso oceano da matéria! Tal reflexão seguramente tende a mortificar todas as nossas paixões. Não ajuda ela, porém, a desse modo contrabalançar o artifício da natureza que felizmente nos leva ao engano de acreditar que a vida humana tem alguma importância? E não poderia tal reflexão ser utilizada com sucesso por pensadores voluptuosos, com o intuito de nos afastar dos caminhos da ação e da virtude em direção aos campos floridos da indolência e do prazer?"