Reflexão 1
Que tempo é esse?
A experiência de viver sem planos, um dia de cada vez, cada coisa ao seu tempo, para mim, hoje, é uma realidade.
Surpreendentemente, não é uma experiência tão ameaçadora como seria a tempos atrás, quando a vida se constituía somente de planos ou ações concretas para a sua realização. Vida como reta de chegada.
De qualquer modo, a experiência de viver consciente da provisoriedade da vida é muito inquietante, pois é a experiência de mergulhar, constantemente, na incerteza do próximo passo. A consciência da incerteza e mesmo o gosto pelo caminho feito durante a caminhada não consola, pelo contrário, exige a entrega total do vivente. Nessas condições, viver é o devir em ato.
Uma vida em balanço que por não ser certeza de planos dados de antemão apontam para os sonhos prometidos. Vida de incerteza, mistura da dor da insegurança com a alegria da permanente promessa dos sonhos, da esperança, da utopia, como ponto lá adiante que reorienta sempre a caminhada da vida, que por negar as certezas constrói a vida em perspectiva, permanente canto e encantamento.
Se houvesse um conselho a dar estaria no ditado popular “a cada dia seu mal”, costumeiramente, dito como consolo das “agruras” da vida baseada em certezas. Diversamente, aqui pretende significar algo assim como “viva um dia de cada vez”, seja generoso consigo e com a vida, viva aquilo que a vida oferece sem fazer acepção, se entregue, abertamente, as oportunidades dadas pela vida, pois, no final, ao ter passado por cada vivência, certamente, terá satisfação, especialmente, do prazer do amadurecimento, que nos faz portador de abertura a multiplicidade de sabores do viver, nem sempre adocicados.
Assim, vive-se no ritmo da música Maravida (Gonzaguinha):
“Vida, vida, vida
Que seja do jeito que for
Mar, amar, amor
Se a dor quer o mar dessa dor, ah!
Quero no meu peito repleto
De tudo que possa abraçar
Quero a sede e a fome eternas
De amar e amar e amar...
Vida, vida, vida”
(de Assis Furtado, 24/08/13)