INFAUSTA ALOMORFIA
 
O estudo do ser e de sua existência em alguma composição confiável das coisas parece-me, embora fundamental a nossas essências, fadado ao fracasso por cegueira despercebida. Em contrassenso, tenho também sérias dúvidas sobre algum existencialismo qualquer que independa de nós. O paradoxo me aflige. Se não mais posso conceber existências quaisquer sem nós, também percebo-nos sérias defecções a produzir gêneses inconfiáveis.

De fato, se alguma metafísica existencialista parte do homem, já me parece fatalmente condenada, pois se trata de um existir havido por e para ele mesmo. E exatamente dessa vereda incerta, por onde escorre nossas essências falsas, é que, aberrações abnormais em que nos transformamos, podemos fazer nossas escolhas sobre tudo que nos apeteça ou não, condenados que estamos a não mais poder ser, sem que nos centralizemos na amplitude de nossas anomalias.

Não nos há estrinsecalidades. E não há como possamos explicar, imparcialmente, uma singularidade evolutiva, que a tudo possa dominar por sua honra e glória, ou que a tudo possa enclausurar em seus próprios parâmentos cegos, em entendimentos do que nos logramos ver, tocar ou presumir. De todo modo, obtemos não mais que frutos de nossos pensamentos postos. Invariavelmente nada mais é sem o homem, pois tudo lhe está moldado conforme suas cores, desde a concepção de sua razão espúria: Todas as criações se condenam em seus criadores, e esses em suas criações.

Assim, dos montes escorrem enxurradas de imperativos palavreados por egos inflamados, desaguando em planícies habitadas de incontáveis pontos vivos a lhes admirarem os ébrios regurgitos.

Nos mares inspiradores, à superfície, ondeiam menestréis em insânias de alegrias ou de angústias com suas singelas composições, porém insóbrias ao omitirem mistérios que depositam em seus fundos impérvios.

Das avenidas e ruas, onde trafegamos como formigas perdidas em nossas múltiplas direções, carregamos cacos de consciências do que, abnoxiamente, julgamos poder entender.

Nos jardins de nossa ilimitada prisão sem fronteiras, plantamos sonhos incautos que esperamos florirem em porvires que não chegam.

Da harmonia infinita acima e da incerteza quântica havida no extraordinário pequeno, fazemos conjecturas extremas ao lhes elucidar conforme nossas conveniências iníquas.

E nos deuses ou demônios apócrifos, promovemos nossos atos mais covardes; pois até eles nos pertencem muito mais do que nos possamos imaginar pertencer-lhes. E a própria fé, inerente e crucial, parece condenada por vã tentativa de se projetar parte de nosso cerne em algum ponto de conjecturas límpidas, apartando-nos males de cerne.

Não obstante, de todos esses arrebóis em que nos impolutemos ou nos enodemos, há inevitáveis quedas, em consequência de nossa alomorfia enlevada. E, após nossas aventuras por onde andamos ou viermos a andar, amalgamando-nos às demais criações com nossas sinfonias e colorações faustas, estaremos diante do mais inóspito horizonte que, uma vez transposto, cobrará o resgate de tudo que lhe fora vilipendiado.

E como poderia ser de outra forma se nossos espectros emanam iniquidades de suas mansões tênebras, por incapacidade de translucidação a nossas próprias personificações fossilizadas?

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 22/08/2013
Reeditado em 22/08/2013
Código do texto: T4447026
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