viver não vivo...morrer não posso

vivo...

uma esperança parca

um tormento duro

vivo...

uma alegria breve

uma dor lacerante

vivo...

uma vida eterna

de um morrer diário

vivo...

sem saber o que seja

morro sem sair do corpo

vivo o prazer da companhia que tenho

morrendo a saudade de quem deixei pra trás

vivo o sol que me acolhe

morto de pesar de minha terra saudosa

vivo a flor que me apetece

e a navalha que me dilacera

a derme da minha alma sangra

e meus olhos brilham na manhã...

pobre de mim

erva daninha na fenda da pedra

fadado ao nada

ou a todas as intempéries cruéis

coração pendendo

entre o afago da mulher amada

e o açoite da consciência pesada.

mas calado vou

aproveitando intensamente cada segundo

por uma vida que não tenho

esperando uma morte - que nunca chega !