QUANDO O AMOR DOBROU A ESQUINA...

FOI POUCO ANTES daquele último aceno, na iminência do dobrar da esquina, que lhe chamei de volta e indaguei: “Deixaste de amar-me porque não mais fui capaz de encantá-la ou deixei de encantá-la porque não mais foste capaz de amar-me?”

Mirando ao esmo do descaso, ela me disse: “Ora, que diferença faz agora já que decidi ir-me embora?” Respondi: “Muita diferença faz, pois decidi permanecer comigo, ainda que só comigo...".

Bem, ela de fato se foi... No entanto, o eco da interrogação ainda retumbava em meu peito: “Será que faltaram razões para o amor ou dissiparam-se as aptidões para amar? Foi o amor que se esgotou ou a competência que se evadiu? Foi o aspecto que se deteriorou ou foram os enuviados olhos que deixaram de enxergar? Foi o desejo que cessou de querer ou foi o comprometimento que deixou de desejar? Foi a falta de afeto ou a escassez da intimidade?”

É bem verdade que nada disso a trouxe de volta aos meus ávidos braços. No entanto, tais questionamentos trouxeram sim alívio ao meu angustiado coração. Aprendi então que a compreensão nem sempre conserta as rachaduras dos consumados acontecimentos, mas quase sempre restaura as fissuras dos abalados sentimentos...