Refletindo o TDAH na infância

“Normais levantam, reclamam, vestem, irritam-se, xingam e cumprimentam sempre da mesma forma. Dão as mesmas respostas para os mesmos problemas. Têm o mesmo humor no serviço e em casa. Petrificam sorrisos no rosto, dão presentes sempre nas mesmas datas. Enfim, têm uma vida estafante e previsível. Fonte para vazios e enfados. Normais não surpreendem, não encantam.” (Augusto Cury – O Vendedor de sonhos). O que é uma criança normal? O que é normal? O que é ser criança? Como deve ser a infância? São algumas perguntas pertinentes que, ao serem respondidas, estarão traduzindo a projeção de uma moldura pré-estabelecida de como deve-se ser ou de como não se pode ser perante uma sociedade voltada ao sucesso (o que é sucesso?) e à perfeição.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, com ênfase na palavra Déficit, que quer dizer deficiência, é um transtorno que patologiza crianças que “fogem” do controle de seus pais, professores, cuidadores e/ou responsáveis. Atualmente, diagnosticar esse transtorno em crianças “danadas”, está se tornando um hábito na psiquiatria, pois é mais fácil e mais vantajoso ao profissional e aos cuidadores, acalmarem superficialmente o pequeno paciente com medicamentos sedativos, do que lhes doparem com atenção e carinho, físico e emocional.

Aproveitando a essência do diagnóstico, bem como do tratamento medicamentoso de TDAH, que, na minha opinião, visam mecanizar o ser a fim de que ele possa ser encaixado em um padrão social pré-estipulado voltado à perfeição, façamos uma comparação infeliz, porém muito ilustrativa destes casos extra-sociais: imaginemos uma Mobilete em meio ao trânsito de grandes motos, carros, caminhonetes, ônibus, caminhões. Suponhamos que a Mobiliete é a criança, o mundo social é o transito e os adultos são estes outros veículos. Agora, imagine-se colocando esta Mobilete em meio ao trânsito de uma avenida. Qual seria seu desempenho frente aos outros veículos? Ela conseguiria acompanhar o trânsito? Ela poderia circular normalmente sem ser vaiada ao fracasso pelo barulho das buzinas? Vendo sua lentidão em meio ao trânsito maçante, você a leva ao mecânico que, prontamente lhe diz que é possível que ela fique mais potente e se encaixe melhor no padrão que o trânsito exige para que você possa circular de maneira mais eficaz nas avenidas. Prontamente, você potencializa sua Mobilete e tenta rodar pelas avenidas em vão, pois com certeza você não compreendeu que a Mobilete, mecanicamente alterada para encaixar-se nos padrões do trânsito, nunca aguentará a pressão de ônibus, caminhões, carros e grandes motos, pois não foi feita para estar ali.

Assim o é com as crianças que são constantemente adultificadas para viverem em meio à pressão do trânsito da perfeição humana. Crianças que, quando não se encaixam nas avenidas da infância, são levadas aos mecânicos da psique, e (des)potencializadas com medicamentos e rótulos patológicos para poderem retornar aos padrões sociais estabelecidos para o “sucesso”(?), ao invés de serem vistas apenas como crianças que precisam simplesmente estarem circulando pelas ruas da infância como crianças e não como ônibus, digo, adultos.

Dizem que algumas crianças vivem kkkkkkk – desculpem -, “no mundo kkkkkk – perdão outra vez -, da lua” Kkkkkkkkkkkkk... É isso mesmo, NO MUNDO DA LUA!! Ai, ai... E o mais engraçado disso tudo, é que quem diz isso é aquele que “vive” (existe, melhor dizendo) o presente, no futuro e no passado. Sim, é isso mesmo! Pare um pouco para observar o quanto existimos nosso presente, planejando nosso futuro e tentando mudar nosso passado! Aposto que você sabe tudo o que deve fazer até o restante do dia de hoje, bem como o tempo que gasta lembrando-se das coisas que aconteceram acreditando que poderiam ser diferentes. São dois tempos que não existem, que não fazem parte da realidade. O antes e o depois, o que já foi e o que pode ser, o que aconteceu e o que tem a possibilidade de acontecer, o passado e o futuro, ambos os tempos, são inexistentes, não pertencem à realidade atual. Agora me diz: o que significa MUNDO DA LUA?

Vocês, crianças de ontem, não rotulem as crianças de hoje! Querem tratar um Déficit de Atenção e Hiperatividade paradas e sentadas atrás de uma mesa sem dar atenção? Criança é criança e deve ser apenas criança! Infância não quer dizer que a criança deve ser bebê para sempre, muito menos que deve tornar-se adulto com três anos de idade. Sou a favor da medicalização infantil em alguns casos especiais sim, mas que seja dado antes de tudo o risotalina, carinhopanol, atençãoptilina...

Vinicius de Freitas Carneiro e Ana Rita Gomes
Enviado por Vinicius de Freitas Carneiro em 13/08/2013
Reeditado em 20/08/2013
Código do texto: T4432432
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