O IPHONE, O ARCAÍSMO E A MAQUININHA DE CARTÃO DE CRÉDITO
Grande é o prazer em se servir de um almoço self-service, saborear a sobremesa paga com cartão. A música ambiente relativamente baixa lembra os cantos gregorianos entoados nos recônditos sombrios dos templos românicos.
O progresso impulsiona a tecnologia. A maquininha do cartão de crédito é um avanço dos mais esplendorosos, que o digam os que aperfeiçoam o capitalismo e dele fazem a satisfação da vida.
Essas engenhosidades eletrônicas poupam alguns incômodos, como os de carregar pacotes de dinheiro e maços de cheques. Resguardam os comerciantes do escândalo de meter a mão no bolso alheio como o trombadinha que surrupiou o iphone do transeunte. O desgraçado deixou o rapazinho sem opção de usufruir da tecnologia e de ouvir os cantos gregorianos que tanto fizeram bem ao espírito nos tempos de seminário. Os templos também modernizam a cobrança do dízimo. Aposentam a sacolinha. Fazem uso da maquininha. Para que manter o gesto constrangedor de balançar a sacola e se deparar com semblantes carrancudos?
Por cá o progresso ganhou outras configurações. Os tupiniquins foram obrigados a decorar a ladainha dos Donos do Poder. A "inflação zero" corrói até o cérebro, quando se recorre ao "bolsa alimento" e se encontra uma bolsa vazia que não alimenta um passarinho. A Festança no Grande Parlamento continua. Engravatados gastando em festins e o país a fora, em nome de uma "aceleração do crescimento" permanece na estaca zero
Apenas a maquininha continuou a fazer progresso, levando o cartão de crédito a conduzir à bancarrota, proporcionando um déficit incontrolável na economia doméstica, enquanto os bancos engordam e se tornam obesos, (acumulam montantes de capitais e a cada ano multiplicam o superávit).
Se quiser, o transeunte, tem que se conformar com o iphone, agora adquirido num quiosque chinês, não para ouvir música gregoriana.
A maquininha deixa pra lá. Ela vai causá-lo mais aborrecimentos.