ALUCINAÇÕES INSÓLITAS

     As imagens conspurcadas por nossas retinas cegas, mediante luzes emergidas do Universo a tocarem todas as coisas, e também as originadas de nossas imaginações férteis, de nossos anseios lânguidos e de nossas crenças, vãs condicionados às mesmas claridades flexuosas, trouxeram-nos a sensação de um estranho poder, que não há no enigma que desapercebidamente se faz senhor de tudo, até quando se concebe como servo em algum reino edênico, em honra e glória de sua maior projeção, criada de modo espuriamente sublime: um Deus sempiterno, onipotente, onisciente e desprovido do mal latente de seus criadores.

     Proscrito pelos campos de caminhos incertos para os quais ousei olhar; consciente das excentricidades contidas nas cinzas travestidas de tantas cores a agitarem os ares, absortas, em suas falhas concepções, do silencioso apagamento do porvir que há além de nossos véus andantes; e angustioso em minhas próprias delinquecências; transmutei-me em um abastema ébrio, e todos os preceitos já existentes ou por virem a existir advindos do homem, em mim, foram margeados com um oceano de dúvidas excruciantes sobre realidades intactas e deformações impostas por gêneses adúlteras, que invadiram meu âmago em pesares que curvam minha sanidade ao limite obscuro de minhas próprias alomorfias esquálidas.

     Minha ora está suspensa; e meu horizonte, exangue. De fato, o que poderia haver das janelas propínquas ou distantes a me contemplarem ou a me ensinarem, com suas vãs palavras ora ofertadas em cerimônias amorosas ou cativantes, ora disparadas como flechas a rasgarem uma carne já morta e uma psiqué já acabrunhada, se já ousei me incursionar e enfrentar meus mais secretos medos, meus mais recônditos refúgios, e minhas mais depravadas atuações, aceitando-me inalienavelmente um adúltero aprócrifo lançador de essências perfídicas, dissimuladas em aromas aprazíveis?

     Mundos, vastos mundos de delineamentos incertos é o que constituímos a todo momento. Mas, estabelecidos em uma ponte da qual não vemos, senão aprocrifamente, princípios ou fins, nem realidades ou mistificações nela postas como aves inocentes ou como pedras de tropeço, e diante de claros espelhos mágicos que nos revelam nada mais do que nos seja cobiçado por nossas escolhas enrascadas, não podemos perceber que a metade da floresta é mata densa, onde não se pode adentrar sem devastação de virgindades; e a outra metade consiste de pântanos lodosos, onde não se pode pisar com precisão alguma. Acima, a noite insentida, com suas sombras pálidas, incumbe-se de cegar totalmente todo o espectro por nós cultivado.

     Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 09/08/2013
Reeditado em 09/08/2013
Código do texto: T4426961
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