t a r d e z i n h a

A tardezinha é minha hora preferida para escrever

Digo isso porque acho um pouco de sabedoria

nesse breve intervalo entre o dia e a noite

É um momento singular.

O nascer do dia é uma hora alegre, e não é isso que eu quero.

Não porque só desejo escrever coisas tristes,

mais porque algumas vezes "a tristeza faz melhor a alma do que a alegria " (Salomão).

Também não é uma forma de esconder-me atrás das sombrias formas de pensamento que podem surgir. como ter prazer na dor.

É que o escritor, como um notável admirador do pensamento humano, não deve fugir dos

pensamentos negativos que podem visita-lo em determinadas horas, mais sim, agarra-los como crias rebeldes do seu rebanho,

não necessariamente para confronta-las, mais principalemente para analisa-las.

A tarde não diz coisas apenas sobre mim , porque ela sabe o que eu quero, quero um presente ,

Uma fabula , Um verso , Uma prosa poética ..., seja o que for que ela traga para mim , quero que

seja também para outros.

Porque se quero ser lido mesmo, devo buscar a mesma frieza da noite que chega e expulsa a alegria da luz de cada um .

(afinal, um escritor deve conectar-se não apenas ao seu proprio mundo, mais se dedicar a árdua tarefa de utilizar palavras para permitir que isso também ocorra em quem o está lendo)

Porque todos podemos ter pensamentos escuros . Na terdezinha todos coexistem ; e dessa maneira, podemos compartilhar de

"padrões de anoitecer" em nossa maneira de pensar . algo como um "raport".

nisso somos todos suscetíveis ao cair da noite, assim como tudo o que é vivo está sujeito a mesma lei.

Mas a influencia nos pensamentos é muito diversificada, a tardinha pode até ser usada para fins de conquista.

Isso me lembra um conto do século XVIII, mais ou menos assim :

Um homem desejava conquistar uma moça , ou melhor ,

Pedir sua mão [ isto mesmo decepada ! { gosto de destacar as ambiguidades engraçadas que nossa lingua pode gerar } ], e enviou-a uma carta com o trecho :

“Gostaria de encontrar você ao cair da noite no jardim de outrora, para pedir algo que mudará nossas vidas”

Porque ao cair da noite ?

Será que nesse momento, o pedido , é mais provável não ser negado?

pelo menos ele avisa com antecedência, do contrário,

Pobre da moça , não teria chance de ponderar uma decisão tão importante através da luz da razão. Se encontraria com seu lado mais romântico, senão pelo jardim, seria pelo suave cair da noite.

É assim mesmo.

Talvez essa beleza crepuscular da tardezinha nos traga a oportunidade de encontrarmos com nossa parte mais humana.