Sempre estive
Sempre estive
entre um risco e um rabisco
entre um pesadelo e um sonho
entre as margens e as linhas.
Vivi toda primavera em cada inverno
e sobrevivi a todas catástrofes possíveis
Não foi o ardor da terra
que me fez evaporar em sustenido.
Não foi a música da chuva
que me ninou em seus braços.
Na verdade o somatório das marés
é que abrandou a minha história
e fez-me assim densa como névoa
e etérea como fumaça.
Tornei-me a luz de uma noite solitária
e fiz-me sonata ao escorrer pela cascata.
Sempre estive
entre a razão e a emoção
buscando um equilíbrio
que me permitisse segurança no vôo.
Mas
não possuía asas.
E fora do contexto, não havia nada.
Sempre estive à beira do caminho
e, no entanto, jamais aprendi a tropeçar...
Deveria ter ignorado as placas
virar à esquerda, virar à direita,
retorno e em frente.
Em chão de caminhante
quem ultrapassa ganha citação...
Sempre estive e, no entanto, nunca fiquei.