Loucura,
Eu sempre refleti sobre o quanto a vida pode nos matar, parece até uma possibilidade impossível, mas eu estou mais morto do que os cadáveres no cemitério. A morte da alma é pior do que a morte física.
Alma em estado pútrido, que morre quando deixamos de acreditar nas nossas possibilidades, quando não conseguimos enxergar a áurea brilhante da esperança e o caminho torna-se uma escuridão inabalável. Todas as palavras que saem de nossa boca não passam de questões irrefutáveis. Ninguém nos faz mudar de ideia, por que o nosso pensamento é desativado pela certeza de que é o fim.
Então vem o primeiro estágio. O começo de tudo, geralmente acontece quando perdemos alguém que era muito importante, a ponto de acreditarmos que nossa vida dependesse dela e que nada poderá preencher aquele vazio implacável. Os dias começam a passar lentamente, sem sentido algum, deitar e levantar lhe parece algo estúpido e sem nexo. Assim como respirar. E você deseja, a cada fechar de olhos, que eles jamais se abram novamente, por que a morte causa-lhe a sensação de liberdade e paz permanente.
Depois vem a negação dos sentimentos. Pior do que ignorar o amor é acreditar que ele nunca existiu. Maior dano causa o pensamento de que o ser humano nada mais é do que um saco de ossos andando pela terra e que os sentimentos são vagas ideias equivocadas para acalentar a dor. E então chega a dor, retumbante, quebrando espaços dentro do seu coração, arrebentando as fibras que sustentam seu corpo já enfraquecido, pronto para cair.
Prendemo-nos dentro de nós mesmos e esquecemo-nos do mundo, encerramo-nos numa piscina de angústias e desilusões. Deixamos de ser e nos anulamos. Pior do que morrer é anestesiar a vida.
Por fim, resta a loucura, a parte mais complicada, aquela que, em devido estágio, não permite o regresso. É quando todas as esperanças estão perdidas e todas as possibilidades se tornam nulas. E o que mais te motiva é encontrar a forma mais fácil de morrer. Você vê um carro e sente a terrível necessidade de se jogar sobre ele. Uma ponte se torna um arauto de felicidade, por que um salto freia aquele sentimento de impossibilidade. Loucura: quando os sentidos são bloqueados e alma anda por si própria, pelos caminhos mais obscuros, farejando o fim.
Em certo momento importante de nossa vida, nos cansamos dos problemas sem soluções, e desistimos de nós mesmos. E há tantas possibilidades: um tiro, um corte, uma corda, um salto.
Para não se afogar em seus próprios medos, você se joga.