Pensamento 217
Um dia a incerteza define um tempo novo e o que era vastidão em mim se concentra, em ti se continua e em todos marca de esperança. Mudamos sempre que o inevitável nos abarca, sempre que, fechado o regresso, só podemos avançar. Na idade, na determinação, no amor. Agora estamos crescidos, maduros, adultos. Quando olho para trás ainda choro mas, a seguir, meto as mãos á obra e esqueço as dores, as desfeitas, as raivas com que alguns tentam parar-me o tempo. E vejo-te. És a força e a beleza porque também para ti a mudança gerou diferenças e oportunidades. Só por absurdo voltaríamos à fixa certeza da imobilidade. Eram dias, semanas, meses, anos e tudo se percebia igual, cansado, sujo, triste e velho como são todos os ciclos viciosos, como é a acomodação , o morno ou a ambiguidade. Mas o dia do salto chegou e foi imperioso rasgar horizontes, ferir o peito, cortar a podridão e atingir a ribalta da diferença. Outra terra, outra gente, um tempo que se desenrolou como um convite irrecusável para ser. E fomos, somos, continuamos. Aprendemos que as melhores regras são simples, que as melhores bebidas têm virtudes da água, que o tempo ideal é aquele em que espreito a tua alma através do que mostram os teus olhos. Mudamos tudo e tudo andámos para ficar aqui. Este ar é o mesmo mas, agora, podemos respirar.