MAGNIFICENTIA EBRIUS

 
No mesmo ponto do gigantismo autocentrado que permite sermos criadores ávidos de vastos mundos, reais ou alucinados, inexorável é o entorpecimento que nos cega diante do alheamento de que, quanto mais tênues os fios de luz a tocarem imagens concebidas por nossos pensares, menos capacidade temos para vilipendiar originalidades.

Minha inconsciência insciente e meu digladiamento com magníficos templos autopreservados trouxeram-me a ilucidez necessária à minha abstração delinquente. Do alheamento entre vultos sem rostos que se dignificam com máscaras no espraiar de suas diligências frívolas, em camutações de belas rosas e venenosos espinhos, instaurou-se-me no âmago, encoberto por minhas fictícias pregações conceptivas, um vácuo frio e empedernido, do qual não consigo mais discernir entre realidades ávidas, crenças fadigadas, anseios réprobos e devaneios inaudíveis. Desprovido de meu escudo autoprotetor e diante de um fiel espelho, vejo-me, como a meus semelhantes desonestos, como fraudes anômalas a inaugurarmos, em alegorias, imensidades que não nos pertencem.

De onde me encontro, sobre minha transitória e débil ponte, onde tropeço sofregamente entre coisas de mundos concebidos a meus aprazeres apócrifos, não contemplo nenhum limite confiável entre imagens espúrias frutificadas de egos sencientes e metafísicas ou dogmatismos quaisquer que nos legitime.

À beira da insânia, quando se é perdida a última esperança que permita estabelecer à aberração alguma honestidade genuína, nos quebrantos internos de nossos próprios seres, tais mundos paridos imprevidentemente de nossas entranhas – e eis somente o que temos – ofertam sons que não ouvimos, senão os que queremos; e visões que não temos, senão as que nos permitimos. E todos os sonhos são condenados em nossas próprias vertentes náufragas, enquanto zumbidos estranhos de nossas asas golpeiam os ares com palavras débeis.

Em porvir desconhecido, entretanto, no provável apagamento existente além de nossas egolatrias – onde não se há como pousar pensamento algum senão em inaugurações falhas com subjetivações ou crenças vazias –, depois de extintas nossas chamas adornadas, lançadas desvairadamente de nossas mentes na intensidade do “estar-na-ponte-arquitetando-alucinações-efêmeras”, até nossos mais fortes heróis e deuses perecerão inexistentes e, de todas as nossas quimeras, com todas as suas imensidades translatas de outrora, não se ouvirão sequer sussurros plangentes.

Péricles Alves de Oliveira
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 29/07/2013
Reeditado em 29/07/2013
Código do texto: T4409834
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