Em minha juventude: O povo tenta reclamar



Visitando minha mãe, encontrei duas pastas com composições que escrevi entre o final dos anos 70 e início dos anos 80. Era uma época na qual eu era religioso, mas o que mais me surpreendeu foi que passados mais de 32 anos os problemas sociais eram marcantes em boa parte daquelas composições. Talvez sejam simplórias, mas são minhas. Entre os textos existem textos de claro cunho religioso, que hoje não me dizem absolutamente mais nada, a menos de uma lembrança daquele tempo. Vou digitá-los todos e publicá-los, sob um titulo “aglutinador”:  “Em minha juventude....”. Quanto aos textos religiosos, estou dividido, metade crê que devo publicar por que eram verdadeiros para mim naquele tempo, outra metade teme que sejam lidos e interpretados ou como o que hoje sinto, ou como alguma forma de ser sínico com o escrito. Sinceramente vou pensar.

O primeiro texto, foi escolhido, simplesmente por ser o primeiro texto, tão logo abri a primeira pasta. Foi escrito em 06-06-1980 como de número 70. Os textos serão republicados exatamente conforme criados na época, sem nenhum ajuste ou revisão, por serem a fiel imagem do que sentia na época. Uma época em que era muito mais atuante nos movimentos de luta e revolta, subia as comunidades e via em realidade o estado de miséria e de submundo em que eles tinham que viver.
 
 
Um sistema incrédulo
Praticamente impossível
Mas nós aqui no Brasil
A ele somos passível
 
A democracia do ouro
Onde o povo quase nada pode fazer
Este é o sistema democrático
Que nós estamos a viver
 
Instalam usinas atômicas
E o povo tenta reclamar
Eles vêm polidos e vistosos
E dizem que somos desordeiros
E que nos devemos calar
 
Contra a inflação galopante
O povo tenta reclamar
Eles vêm polidos e vistosos
E dizem que somos desordeiros
E que nos devemos calar
 
Contra a democracia do arbítrio
O povo tenta reclamar
Eles vêm polidos e vistosos
E dizem que somos desordeiros
E que nos devemos calar
 
Contra a falta de segurança
O povo tenta reclamar
Eles vêm polidos e vistosos
E dizem que somos desordeiros
E que nos devemos calar
 
É sempre a mesma coisa
O povo tenta reclamar
Eles vêm polidos e vistosos
E dizem que somos desordeiros
E que nos devemos calar
 
Eles chegam para o povo
E reclamam: O que é que nós queremos?
Dizem que nos dão tudo
O que é que nós faremos?
Eles sempre polidos e vistosos
E nós o que seremos
 
O povo tenta opinar
Eles vêm e nos censuram
Nós temos que evitar
Que deste modo eles nos possuam
 
O povo não é boneco
Que eles possam manejar
Nós somos seres humanos
Precisamos esta situação melhorar
E é sempre a mesma coisa
O povo tenta reclamar
Eles vêm polidos e vistosos
E dizem que somos desordeiros
E que nos devemos calar
Talvez sim, devamos nos calar
Calar para poder agitar
Agitar no bom sentido
No sentido da revolta popular
Amigos, isto nós temos que mudar, transformar e melhorar.

 
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 26/07/2013
Reeditado em 26/07/2013
Código do texto: T4405559
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