Faz de conta

Faz de conta que eu te amo e você me ama. Que o abraço é apertado para não escapar. Que o amor é devagarzinho para não terminar. Que essas quatro paredes são nossa muralha medieval. Vamos esquecer os carros que riscam a noite lá fora, com suas músicas estridentes e letras obscenas. O gosto de álcool e cigarro na boca. Vamos tingir os lábios de gloss de morango, cereja e tutti-frutti. Faz de conta que tudo vai dar certo.

Faz de conta que é um conto de fadas, com um final feliz. Que ainda somos puros, rabisque nossos nomes em um muro, dentro de um coração flechado. Que ainda somos românticos e lemos poesia aos suspiros, que os heróis vencem no final. Que ainda temos ídolos de pôsteres de parede. Que juntos vamos mudar o mundo.

Faz de conta que é eterno. Se machucar foi sem querer, se sangrar é ketchup. Que ainda escrevemos cartas de amor perfumadas, com corações e rostos felizes no lugar do pingo do "i". Vamos assistir a filmes que nos fazem chorar, ouvir músicas que nos fazem transgredir; ler o mesmo livro e marcar as páginas que sei que vai gostar. Vamos conversar noites a fio e esquecer de dormir.

Faz de conta que a noite não vai acabar; que amanhã não é cada um por si. Faz de conta que vai telefonar. Que não é uma paixão efêmera, uma luxúria à toa, um erro de percurso. A consequência de um caminho torto. Faz de conta que estarei ao seu lado ao amanhecer, que você estará ao meu lado quando eu precisar. Faz de conta que vou te fazer carícia até você dormir, que vou velar seu sono, que vai ter sonhos bons e quando acordar eu ainda estarei aqui.

Andressa F
Enviado por Andressa F em 26/07/2013
Código do texto: T4404846
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