A Paz Dos Mortos
Um corpo inerte pela melancolia cortante, afundado no ócio da desesperança latente, gritando em silêncio aterrador a nevrose fúnebre que despedaça o pensador na angustia de ter que se arrastar e prosseguir. A coragem que me falta faz de mim um árduo sofredor, carregando esta cruz infernal pelas pessoas que me amam e vivendo pelos outros. Maldita empatia que me toma, afasta o egoísmo para longe, e somente fico a sonhar com o dia derradeiro em que a morte me cobrirá com seu manto… O que é a felicidade? Esta a que todos tanto almejam, lutam e matam para obtê-la; Há muito já não sei seu significado, talvez nem mesmo a tenha sentido de verdade, com exceção de prazeres passageiros que somem no passado como se nunca tivessem existido. A negridão da noite é o que me conforta, onde, através do cantar dos corvos, a sinfonia lúgubre dos carniceiros da morte, traz-me um pouco da paz em que repousa os mortos. Vida estranha esta minha que percorre por áscuas dolorosas, sentir-se vivo somente no descansar do sono profundo, e sentir-se morto enquanto a vida radia lá fora. Olho para as lápides dos que já deixaram de sofrer, esquecidos na escuridão telúrica do não-ser, sob a companhia operária dos seres vermicular, que comem suas carnes na ânsia sôfrega da natureza morta; e sorrio para mim mesmo, fitando o plenilúnio que me observa silenciosamente, divago minha imaginação pelo dia em que serei esquecido no silêncio misterioso da inexistência. Guardemos nossas orações e lágrimas para os que estão vivos, pois os mortos jazem vãos adormecidos na escuridão das profundas sepulturas. E quando, à tarde, no cair do crepúsculo que anuncia a noite, lembrai-vos da multidão dos que são vivos, sofredores que correm contra o tempo e vagam perdidos na mesquinhez dos desejos supérfluos; meditem, então, na paz dos que já não-são, e verás, talvez, como é suave o sono daqueles que deixaram de sofrer…