Cumplicidade
Somos amigas desde bebês, como quando os destinos são traçados na maternidade.
Passamos juntas a infância, a adolescência, dividimos alegrias e tristezas, namoramos muito e nos divertimos à beça. Tudo entre nós acabava em gargalhadas.
Na década de 70, gostávamos de freqüentar barzinhos na Ilha do Governador: atitude não vista com bons olhos pela Tia Juçara, mãe da Mara.
Um sábado estávamos em casa durante uma “fossa” da Mara pelo término de um namorico. Resolvemos sair para bater papo, nos distrairmos. No entanto, como não podíamos dizer à tia que íamos à Ilha, usamos a “mentira cor-de-rosa” ao dizermos que íamos ao teatro.
Fomos para um barzinho, que hoje não existe mais, chamado Geranius. Música ao vivo, ambiente aconchegante, ideal à troca de dores de um amor terminado por alguns olhares.
De repente, adentra ao recinto o cantor Waldick Soriano com seu inseparável chapéu. Notamos sua presença, rimos um pouco, afinal, para nossa geração, ele era considerado um cantor “brega”. Percebemos que ele me olhava insistentemente, desviamos o olhar e ríamos baixinho da situação. Pouco depois, chega o garçom e me entrega um cartão com o telefone do tal.
Ao chegarmos a casa, contamos o ocorrido para Tia Juçara. Ela, surpresa, nos perguntou onde o tínhamos encontrado. Mantivemos a mentira, afirmando ter sido no teatro. Toda a situação fazia daquela noite memorável: rimos tanto que a “fossa” da Mara esvaiu-se pelo ralo.
Foi então que, no dia seguinte, ao acordarmos, encontramos Tia Margarida, que estava de visita rápida a casa de Mara.
Papo vai, papo vem, contamos o ocorrido e - como mentira tem perna curta - quando Tia Margarida perguntou onde o encontramos, Mara respondeu: No Geranius. Imediatamente me encolhi, já esperando a reação de sua mãe. Rapidamente, Tia Juçara, num tom de voz alto e ameaçador, bradou: “Mara, não foi no teatro que o encontraram? Já não te disse que não quero vocês pelas bandas da Ilha? Duas moças sozinhas naqueles bares...”. Mara, que era rápida no gatilho naquelas situações, afirmou: Mamãe, foi no Gerânius sim, depois falamos sobre isso. Eu, a cada momento me encolhia mais na cadeira, pensando o que iria sair dali. Conversas amenas aconteceram e, tão logo, Tia Margarida foi embora. A pobre ainda não havia chegado ao portão de saída, quando Mara se dirigiu à mãe e disse: “Mamãe, quando eu falar alguma coisa a senhora não me desminta, por favor. Tia Margarida vive me pedindo para levá-la ao teatro. Se eu dissesse a verdade, ela ficaria triste comigo”. Minha saudosa tia, então, lhe pede desculpas. Naquele momento, eu constatei que minha prima-irmã-amiga tinha o talento nato para ser atriz.
É essa história que conto inúmeras vezes para os jovens, quando falamos sobre a juventude gostosa que vivenciamos.
Hoje, eu e Mara não nos vemos com freqüência, pois a correria da vida não permite o contato no dia a dia, mas nossa amizade foi fortalecida com os laços do afeto, que perduram em nossa memória afetiva com o nome de cumplicidade.
Regina Coeli Carvalho, Julho de 2011
Relatei esse episódio inspirada em uma promoção do Dia do Amigo: “Escreva uma história marcante entre você e um amigo”.
Não participei da promoção ficou somente como registro da memória afetiva.
Somos amigas desde bebês, como quando os destinos são traçados na maternidade.
Passamos juntas a infância, a adolescência, dividimos alegrias e tristezas, namoramos muito e nos divertimos à beça. Tudo entre nós acabava em gargalhadas.
Na década de 70, gostávamos de freqüentar barzinhos na Ilha do Governador: atitude não vista com bons olhos pela Tia Juçara, mãe da Mara.
Um sábado estávamos em casa durante uma “fossa” da Mara pelo término de um namorico. Resolvemos sair para bater papo, nos distrairmos. No entanto, como não podíamos dizer à tia que íamos à Ilha, usamos a “mentira cor-de-rosa” ao dizermos que íamos ao teatro.
Fomos para um barzinho, que hoje não existe mais, chamado Geranius. Música ao vivo, ambiente aconchegante, ideal à troca de dores de um amor terminado por alguns olhares.
De repente, adentra ao recinto o cantor Waldick Soriano com seu inseparável chapéu. Notamos sua presença, rimos um pouco, afinal, para nossa geração, ele era considerado um cantor “brega”. Percebemos que ele me olhava insistentemente, desviamos o olhar e ríamos baixinho da situação. Pouco depois, chega o garçom e me entrega um cartão com o telefone do tal.
Ao chegarmos a casa, contamos o ocorrido para Tia Juçara. Ela, surpresa, nos perguntou onde o tínhamos encontrado. Mantivemos a mentira, afirmando ter sido no teatro. Toda a situação fazia daquela noite memorável: rimos tanto que a “fossa” da Mara esvaiu-se pelo ralo.
Foi então que, no dia seguinte, ao acordarmos, encontramos Tia Margarida, que estava de visita rápida a casa de Mara.
Papo vai, papo vem, contamos o ocorrido e - como mentira tem perna curta - quando Tia Margarida perguntou onde o encontramos, Mara respondeu: No Geranius. Imediatamente me encolhi, já esperando a reação de sua mãe. Rapidamente, Tia Juçara, num tom de voz alto e ameaçador, bradou: “Mara, não foi no teatro que o encontraram? Já não te disse que não quero vocês pelas bandas da Ilha? Duas moças sozinhas naqueles bares...”. Mara, que era rápida no gatilho naquelas situações, afirmou: Mamãe, foi no Gerânius sim, depois falamos sobre isso. Eu, a cada momento me encolhia mais na cadeira, pensando o que iria sair dali. Conversas amenas aconteceram e, tão logo, Tia Margarida foi embora. A pobre ainda não havia chegado ao portão de saída, quando Mara se dirigiu à mãe e disse: “Mamãe, quando eu falar alguma coisa a senhora não me desminta, por favor. Tia Margarida vive me pedindo para levá-la ao teatro. Se eu dissesse a verdade, ela ficaria triste comigo”. Minha saudosa tia, então, lhe pede desculpas. Naquele momento, eu constatei que minha prima-irmã-amiga tinha o talento nato para ser atriz.
É essa história que conto inúmeras vezes para os jovens, quando falamos sobre a juventude gostosa que vivenciamos.
Hoje, eu e Mara não nos vemos com freqüência, pois a correria da vida não permite o contato no dia a dia, mas nossa amizade foi fortalecida com os laços do afeto, que perduram em nossa memória afetiva com o nome de cumplicidade.
Regina Coeli Carvalho, Julho de 2011
Relatei esse episódio inspirada em uma promoção do Dia do Amigo: “Escreva uma história marcante entre você e um amigo”.
Não participei da promoção ficou somente como registro da memória afetiva.