Desiludir-se

Desiludir-se. Dizem que é algo ruim, que não faz bem a quem sonha, que não diz nada de bom. Que não traz nada de bonito. Mas se engana quem pensa assim.

Pode-se dizer que "desiludir-se" é necessário. É coisa de ser humano que se entender ser humano. É sair da ilusão e viver. Viver lá debaixo da goiabeira ou trepado em seu galho esperando a noite chegar. É atravessar o rio desembestado, nadando e nadando e colhendo o ar enxugando a roupa surrada. É acordar no dia de semana e se arrumar para o trabalho, voltar para casa e viver nesse meio tempo. É dobrar a esquina, tomar café com os amigos e jogar conversa fora.

É saber que amor traz casamento que consigo traz rotina, companheirismo, as vezes desavença e tudo de volta à solteirice.

Desiludir-se é sorrir e depois se quiser chorar chorar bem muito porque as coisas no mundo não são nada fáceis. É contar dinheiro pouco e se revoltar com a desigualdade e a injustiça. É o menino desejar um tênis caro, um brinquedo bonito, uma tecnologia nova, mas não poder comprar.

Desiludir-se não é alegre nem triste. Desiludir-se é ter da vida a resposta à pergunta que a gente faz sonhando. Se for como no sonho: que maravilha! Se não for: a gente tem que voltar para a lida e cuidar para não ser atropelado de repente.

Desiludir-se é cumprimentar as mesmas pessoas e se acostumar com desafetos, coisa de briga e intriga, em nome da educação que comunga e junta.

Desiludir-se é olhar para um semáforo e vê crianças pedindo esmolas, idosos doentes nos cantos da ponte, pessoas roubadas e que não voltam para casa. Mas também é comprar presente do dia do amigo, dia dos pais, dias das mães, das avós, da mulher, presente de namoro e casamento.

Desiludir-se é viver. Viver sem retalho nem bordado. Viver como é viver todos os dias.

Se por uma acaso você ainda vive sem desilusão não se avexe! A sua hora logo chega e a sua desilusão doerá no começo, mas não se apoquente, logo logo passa. É coisa certa.

Então, se desiluda! Não se preocupe que isso é natural! É como trocar de roupa, deixar de ser pequeno, ver o mundo de outro jeito. Quando você se desilude é que você aprende o beabá da vida. Até lá é tudo novidade, decepção e agrura. Mas é só depois que as coisas começam a fazer sentido. Fazer sentido é dar desilusão as coisas. Tirar o véu. Desencapar. Desembrulhar o presente. Então, para que sentir medo? É coisa inevitável!

Desiluda-se!

Tato Silva
Enviado por Tato Silva em 19/07/2013
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