Esperando o breve



Esperando o breve, na ânsia do amanhã, na esperança do porvir e no despreparo para a morte final, caminhamos em breves momentos de consciência coletiva como que em pleno desespero do que agora acontece, sem que os sonhos possam ser realidade.
 
Procuramos razões para aqui estar, e nos percebemos abandonados, sem suporte, sem amparo, e perpassados por uma angustia natural construímos sonhos que se perpetuam em verdades que nem de perto podemos reconhecer como fatos, e nos sentimos traídos pela própria imagem de humanos que construimos. Somos transitórios em um mundo que não é nosso, em um mundo que nos faz mínimos e sem importância, que nossa prepotência não suporta sem nos responder com criações mentais de poder e imagens de semelhança de algo que não concebemos nenhuma imagem, apenas cremos porque nos faz mais fortes crer. Sofremos quando defrontamos este mundo cruel, injusto e corrupto que ajudamos a construir, com a ideia de um amor divino, de uma benevolência superior e de um mundo onde os animais “homo sapiens” são imagem e semelhança de um amor que este mesmo mundo ousa em nos mostrar não ser verdade, não obstante algumas raras almas viventes repletas deste amor.
 
Para formar nosso tempo, nosso espaço, nos lançamos na busca de uma razão que parece racional, mas que pode não existir, e sofremos por que a morte é nossa guardiã, e no fundo não cremos ser verdade que estamos de passagem, queremos ficar, queremos não perecer, pois da morte nada sabemos, a não ser o medo de passar por ela, mesmo que a nunca experimentemos em essência, pois que vivos não experimentamos a morte e assim que morremos não mais existimos para experimentá-la, quando muito experimentamos o medo de sua chegada cada vez mais próxima.
 
Esperando o breve, não vivemos o presente, e sem viver o presente deixamos escapar por entre os dedos a realização de nosso viver, e depois acabaremos por nos queixar que não experimentamos o viver em essência. A esperança muitas vezes é um atalho para o desespero, quando prefiro o mundo da desesperança, e não correr o risco do sofrer por descobrir que o tempo passou e a vida não compactuou com o que esperava dela. Ouso assumir que o presente deve ser a essência do viver, devo experimentá-lo com toda energia que puder, amar o que tenho, desejar somente o que me é possível alcançar e trabalhar no presente, realizando cada instante que cisma nunca ser, sendo, que cisma sempre vir de um quase futuro e logo se tornar um passado, ouso neste presente trabalhar pela sociedade e pela minha felicidade, momentânea a maioria absoluta das vezes, sempre transitória, trabalhando pela felicidade dos outros.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 16/07/2013
Código do texto: T4390608
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.