O vendedor de agulhas.

Gosto mesmo de pequenas reuniões, sei sempre que quem está por perto não está atoa, está na condição de boa companhia. Os rostos se tornam cada vez mais familiares, os sorrisos exacerbados e as gargalhadas infinitas.

Soube que no dia anterior passara um homem vendendo agulhas naquele bar. O valor era irrisório e a utilidade grande.

Senti os olhos quase brilhando... Lembrei-me daquela época despreocupada que passava as tardes criando coisas, inclusive costurando.

Era despretensiosa, prazerosa.

Era a vida, colorida e aguçada.

Relembrei feliz por alguns segundos, sorri por dentro.

Não menos coincidência das coincidências que aconteceram nos dias anteriores, o homem das agulhas passou por nós.

Me animei, queria olhar o agulheiro de perto com todas aquelas agulhas brilhantes e sentir o cheiro do plástico novo que as envolvia.

Procurei minhas moedas enquanto o homem contava sua triste história, dizendo que juntava dinheiro para voltar ao sul, mostrou-me alguns trocados sobre a palma da mão.

Me comovi, confesso.

No meio dessa cena havia dois seres na mesa também, olhando para o homem, ou para mim talvez.

Um deles mostrava-se ébrio, recluso. O outro nem tão ébrio assim, apenas um tanto “endomingado” para uma sexta-feira à noite.

Este pagou ao homem um pouco mais do que custava o agulheiro e presenteou-me.

Minha mente estava rangendo, pensando, costurando detalhes.

Me agrado muito dos pequenos presentes, primeiramente pela utilidade e principalmente pela simplicidade.

O ébrio disse: “Este homem passou por aqui ontem dizendo que morava debaixo de um viaduto...”. - Mentira ou não, o choque de realidade não estragou a alegria daquele momento.

Parecia uma mentira justa, pareceu realmente precisar o dinheiro. Visto que não pediu cigarro muito menos esmola.

O homem foi embora, parecia feliz. Eu estava feliz.

Permaneci junto às companhias na mesa, nós três e as agulhas.

Não é comum aparecer homem que vende agulhas costurando histórias para conseguir dinheiro, seja lá qual for a causa.

Sei apenas que rendeu boas ideias e lembranças que aquecem o coração.

Tem anos que eu não costuro, provavelmente espetarei o dedo.

Mas é incrível como dá pra costurar tudo no mundo.

Num mundo que já é todo costurado.

Ligiana Ignácio
Enviado por Ligiana Ignácio em 16/07/2013
Código do texto: T4389073
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