O Idiota e a Pena de Morte
Atualmente, estou lendo o livro O Idiota (Dostoievski). Em um trecho do romance, acabei me deparando com a temática sobre a pena de morte, através de um ótica diferenciada. Tudo isso, reforçou ainda mais meu posicionamento contra esse tipo de punição, que continua sendo aplicado com rigor em diversos países como o Estados Unidos (em alguns estados), Japão e China.
Na história, o personagem central, o príncipe Míckhin (uma mistura de Jesus Cristo com Dom Quixote), relata com horror sua
experiência ao presenciar a execução de um criminoso:
Depois de afirmar que a morte por sentença é uma profanação da alma, ele diz: “E, todavia a dor principal, a mais forte, pode não estar nos ferimentos e sim, veja, em você saber, com certeza que dentro de uma hora, depois dentro de minutos, depois dentro de meio minuto, depois agora, nesse instante:
- a alma irá voar do corpo, que você não vai mais ser uma pessoa, e que isso já é certeza”. E arremata: “A morte por sentença é desproporcionalmente mais terrível que a morte cometida por bandidos. Aquele que os bandidos matam, que é esfaqueado à noite, em um bosque, ou de um jeito qualquer, ainda espera que se salvará sem falta, até o último instante… essa última esperança, com a qual é dez vezes mais fácil morrer, é abolida com certeza. Aqui existe a sentença, e no fato de que com certeza não se vai fugir a ela reside todo o terrível suplício, e mais forte que esse suplício não existe nada no mundo”.
Essa situação foi vívida pelo próprio Dostoievski. O escritor russo foi condenado à morte por crimes políticos e no último instante teve sua pena reduzida pelo Czar que o enviou para a Sibéria para realizar trabalhos forçados e atuar como soldado raso por longos anos. Essa experiência também é retratada no seu livro, Recordação da Casa dos Mortos.
Isso demonstra que a literatura muitas vezes, pode servir como uma experiência enriquecedora para o entendimento da sociedade, desencadeando questionamentos inspiradores sobre diversos assuntos polêmicos.
Nesse caso, o relato de Míckhin, um personagem humanista, nos leva a refletir profundamente, perante os sistemas que utilizam a pena máxima, a morte, como forma extrema de aplicar uma punição contra os infratores da lei.
Publicado no blog Sagaz em 07 / dezembro / 2009