"Fala, Bárbara!"
"Fala, Bárbara! O mundo vai pedir que você fale!" Assim dizia minha professora de Português no colégio, indignada com o fato de eu ter o terrível defeito de ser tímida.
Ela não poderia estar mais certa também. O mundo quer que eu fale. Mas sobre o que quer que eu fale, o mundo? Sobre a novela, o campeonato de futebol e a vida das outras pessoas? Ou é sobre política, filosofia e a sociedade?
Nessa era de redes sociais parece que todo mundo resolveu ter opinião sobre tudo. Não me meto a falar sobre assuntos que não me interessam ou que não domino. Se faz parte do direito de expressão emitir opiniões, também faz parte dele não emitir opinião alguma se assim for a própria vontade.
Eu não preciso sair de casa todo dia pronta a começar um debate sobre qualquer assunto em qualquer situação. Tenho direito ao silêncio sempre que o assunto ou os interlocutores não me agradam.
Vivemos numa espécie de ditadura do exibicionismo em que o valor das pessoas na sociedade está diretamente relacionado ao nível de atenção e popularidade que ela consegue. Não importa o caráter, o conhecimento ou qualquer outro atributo que a pessoa tenha: pra ser bem-sucedido precisa ser extrovertido e popular. E o inverso também é válido: é impossível ser bem-sucedido se você não for expansivo.
E afirmo isso categoricamente porque falo com experiência própria de quem já foi demitida simplesmente por ser quieta. Cumpria meu horário e as minhas funções satisfatoriamente, mas ser quieta é inadmissível!
Também já fui eliminada de um processo seletivo pelo mesmo motivo: fui à entrevista, cumpria todos os requisitos para a vaga, tinha a experiência e a formação necessária, porém o entrevistador achou negativo que eu fosse uma pessoa reservada e assim, decidiu anunciar novamente a mesmíssima vaga dois dias depois. Para mim isso é uma forma de preconceito equiparável ao fato de alguém não ser escolhido para um trabalho por ser negro ou espírita.
Por trás do discurso de que os funcionários precisam se comunicar muito bem, as pessoas com tendência a serem mais quietas ou tímidas são sumariamente excluídas. Ora, o que impede uma pessoa reservada de ser educada, cordial e tratar as outras pessoas bem? O que impede uma pessoa extrovertida de ser antipática, arrogante e tratar as outras pessoas mal?
Se no mundo não existissem pessoas mais reservadas provavelmente uma boa parte das invenções nunca teriam surgido. Porque pessoas que falam menos, observam mais; são analistas e solucionadoras de problemas complexos. E o mundo precisa de todo o tipo de gente. Aniquilar as diferenças e querer que todo mundo seja extrovertido é uma afronta, pois a introversão não é um defeito que precisa ser superado e muito menos um desvio de caráter.