Segredo

Enquanto eu seguia rua acima, as pernas trêmulas...

(Alguém haveria de saber por que eu estava tão nervoso?)

O pensamento voava e voltava, sempre com a mesma sina:

- Eu sou tão bobo, mas tudo bem, preciso aprender a me conter.

De repente, tudo está mais lento do que o normal...

E, aqui dentro, eu já sei, sem ver, mas o perfume me diz...

Dizem que quem é feliz, não o sabe ser.

Já eu acho que quem é feliz, não deve saber...

E, sobretudo, não deve dizer.

Eu sou feliz? Odeio ficar me perguntando as coisas desse jeito.

Algumas crianças brincavam nas calçadas, dá uma saudade...

Saudade de quê mesmo? Odeio essas perguntas.

Cumprimento a todos, mas só por dentro, não olho pra ninguém...

A gente percebe os olhos julgando em toda parte...

A sua roupa, o seu carro (ou a ausência dele), os seus fios brancos na cabeça...

Geralmente, isso diz mais para os outros, do que suas palavras e atitudes.

Isso enjoa, por isso, às vezes, tudo é tão chato. Odeio sair de casa assim.

Vou fazer uma pausa...

Encontrei um conhecido, e ele me vem com essa... segue o diálogo, ele primeiro:

- Ah, cara, estou cansado da mesmice, preciso me soltar mais.

- Sei.

- Cara, a gente precisa descansar a alma.

- Sei.

- Sabe o que seria bom?

- (… que você me deixasse passar, sem futilidades matinais?) Calma, pensamento!

- Quê?

- Nada, prossiga, me diga o que seria bom.

- Seria bom se existisse um livro que nos ensinasse a como descansar a alma.

- Ah, mas pra isso existem os cães.

- Não gosto de cachorros.

- Sabe o que seria bom, então?

- O quê?

- [Censurado]

Perder um conhecido chato, e que não gosta de cães, é lucro.

O dia começa a esquentar...

Uma fome vadia me arranca um roncar de estômago...

Mas eu sigo. Sigo. Sigo a mim, sigo minhas necessidades em alma...

Fujo de algumas coisas, preciso muito dos meus esforços sempre preparados.

A gente para, às vezes, olha o caminho...

Nossos passos, nossas marcas, e tudo quanto ainda vem por aí...

Dá uma preguiça de pensar que tudo é sempre igual.

Um dia, um velho me disse, meio ébrio, que...

“A diferença no mundo, depende muito de como enxergamos ele...

Se a dor nos faz calar, ela vence, se a alegria nos faz vacilar, caímos.

Ponha pesos iguais para tudo e para todos, não tenha medo de se impor.”

Acho que ele deve ter ouvido isso em alguma reunião do AA.

Pois fim, pus fim à minha caminhada, cheguei ao meu destino...

Mas daqui a pouco, volto, pra onde mesmo?

De mim, não saio, então, não volto... o único lar seguro, nesses dias cruéis, é dentro de um corpo saudável, e uma mente resistente.

Sou um pária mesmo.

Segredo - Daniel Sena Pires (12/07/2013)