LÁBIOS SELADOS

NO INÍCIO DA MADRUGADA DE 12 DE JULHO DE 2013

Jamais direi o que nunca disse. Jamais. Se ultrapassei – não aqui no Recanto - com alguma palavra, a linha divisória entre o a ser dito do a ser totalmente calado, em momento alucinado e alucinatório, que os deuses da justiça e da vingança não me punam, pelo menos não com seu rigor mais absoluto; que o Deus da Misericórdia me perdoe e proteja... o possível. Jamais direi o que nunca disse. Jamais. Nem nomes reais, nem fatos reais, nem hipóteses... reais, nem o claro rosto dos sonhos para sempre perdidos. Jamais.

Não há quem precise ter medo de mim. Medo de mim... ora... se sou ninguém...

Não devo dizer isso assim, tão categoricamente. Há alguém que deve ter medo de mim: eu mesma. Eu devo ter medo de mim. Eu posso e sei causar-me mal, o que, aliás, é só o que tenho feito desde que me entendo por gente, ou melhor, desde que me entendo por este simulacro de gente que leva meu nome.

Preciso me proteger, me proteger de mim. Talvez haja algum tempo ainda para aprender. Senhores da Luz, ajudai-me. Preciso, mais do que nunca, de vossa ajuda. Mais do que nunca, Senhores da Luz. Deixei-me enlouquecer por mim. Ajudai-me a desenlouquecer para que eu consiga salvar o possível do mundo que me restou.

Permiti que vos peça outra cousa, esta, de território sagrado: Protegei, com vossa Luz, os que me tenham amado e não me amam mais, bem como protegei os que me odeiam ou desprezam, ainda que nem com tanta razão quanto julgam. Aliviai o coração deles do desprezo, do ódio ou da ausência do amor. Aliviai-os da minha presença neles, da lembrança de mim presente neles; aliviai-os de mim para que nada de mim lhes possa causar qualquer espécie de mal, na alma nem na vida. Que eu não tenha, pela minha presença nem pela minha lembrança, poder de lhes causar qualquer espécie de mal. Que assim seja! Muito obrigada, Senhores da Luz.