Falar e Viver
Contam que, certa vez, chegou um missionário a um povoado indígena. Os habitantes receberam-no com grande agrado e se dispuseram a escutá-lo.
- Venho trazer-lhes a notícia de um Deus Pai, que ama a todos nós e deseja que vivamos como autênticos irmãos, servindo-nos e ajudando-nos uns aos outros. Vocês aceitam a notícia que lhes trouxe e recebem em seus corações esse Deus Pai que ama a todos como verdadeiros filhos? O missionário se calou e os indígenas permaneciam em silêncio.
- Aceitam-no ou não? – insistiu desconcertado o missionário.
Depois de um instante, elevou-se a voz serena do cacique dizendo:
- Fique conosco alguns dias, e se na verdade você viver o que quer ensinar-nos, voltaremos a escutá-lo.
Esta parábola do Missionário e o Cacique mostra uma realidade cada vez mais presente no nosso cotidiano. Falamos, ensinamos, apontamos caminhos... Mas, e depois, quando nos encontramos a sós conosco? Vivenciamos o que falamos, praticamos os nossos próprios ensinamentos, seguimos os mesmos caminhos que apontamos...? É incrível que não nos preocupemos, muitas vezes, com nada disso. Falamos pra podermos nos engrandecer e promover, e nos esquecemos que muita gente segue nossa “receita” prontamente! E se nosso conselho não der certo e revelar nossa hipocrisia? Arrumamos uma desculpa qualquer e continuamos vivendo como se nada tivesse acontecido? Pensar no nosso semelhante é imprescindível. Viver em comunhão com as pessoas é parte indispensável do cotidiano de uma sociedade. Sozinhos somos frágeis, por isso é importante saber e viver o que anunciamos!
Tomo aqui o exemplo dos patos selvagens. Os patos selvagens voam fazendo algazarra e seguindo um líder! Esse líder mostra como é que deve ser feito, e quando ele se cansa, troca de lugar com outro do grupo, que passa a ser o líder. A algazarra dos patos selvagens é como uma palavra de incentivo uns para os outros, com se dissessem: “vai lá, companheiro! Voe sempre! Força! Você consegue! Quando se cansar estarei aqui pra te ajudar!” E quando um deles fica ferido e voa mais devagar, dois ou três abandonam o ritmo frenético do grupo para acompanhar o que está ferido, e continuam a algazarra!!!
Que exemplo magnífico esse dos patos selvagens! Eles são exemplos uns para os outros! Mostram como é que deve ser feito e fazem pra ensinar! Vamos nos esforçar por fazer bom uso da comunicação do espírito: o olhar, o sorriso e o gesto. Olhar com a sinceridade de quem tem algo a oferecer porque experimentou e experimenta da própria “receita”. Sorrir com o melhor sorriso que puder oferecer, sem demagogia, mas com franqueza cordial. Deixar que nossos gestos sejam fruto do nosso exemplo de vida. Vamos olhar a vida, sorrir a vida, viver nossa vida na certeza de sermos exemplo de vida e comunhão com nossos semelhantes!!!
Aprendamos das parábolas que nos são apresentadas sempre. Mas aprendamos muito mais com as sociedades dos animais “irracionais”, que agem por instinto, que é a sabedoria que Deus nos dá, mas que nós preferimos discuti-la a vivê-la.
Deus nos abençoe, e que nós permitamos a ação incomparável Dele em nossa vida. Dom Pedro Casaldáliga nos dá uma dica: “Ser o que se é. Falar daquilo em que se acredita. Viver o que se proclama. Até as últimas conseqüências e nas miudezas diárias”.